O exercício pode e deve continuar fazendo parte da vida mesmo após intercorrências como infarto, AVC, lesões ósseas e musculares, Covid. O retorno, porém, exige um bom acompanhamento
Yara Achôa, Fitness Brasil
14/1/2022
Todo mundo está sujeito a situações e traumas que podem abalar a saúde e levar ao afastamento das atividades diárias e da prática esportiva – de acidentes leves aos mais graves, de infarto a AVC e até Covid. Claro que cada caso é um caso e deve ser analisado de acordo com o histórico do paciente, a gravidade do quadro, as intervenções médicas que foram necessárias, entre outras coisas. Mas, em geral, todos podem voltar à atividade física. O retorno, porém, deve ser bastante cuidadoso e acompanhado por uma equipe multidisciplinar.
“Um AVC ou um infarto, mesmo que leves, exigem cuidados extremos. Então, pelo menos uma boa estratificação de risco é fundamental no retorno à atividade física, como um teste em esteira, com protocolo de rampa e ecocardiograma. Em outras situações, relacionadas a lesões osteomusculares, por exemplo, é importante que, por meio do exame clínico – e se necessário exames complementares como ultrassonografia, tomografia, ressonância magnética –, se garanta a segurança do tecido que vai ser exposto novamente a um processo de treinamento lento e gradual”, explica Gustavo Magliocca, médico do exercício e do esporte, CEO da Care Club, de São Paulo.
Trabalho em conjunto
Não basta estar se sentindo bem ou sem dor e nem apenas ser liberado pelo médico para sair fazendo exercícios por aí. “É necessário um alinhamento entre médico, fisioterapeuta e professor de educação física. O trabalho deve ser conjunto. Quanto maior for a interação, melhor vai ser a resposta para o paciente. Com as informações fornecidas pelo médico, o fisioterapeuta inicia um trabalho progressivo – é interessante que ele seja um especialista no problema apresentado pelo paciente. E o melhor cenário seria o fisioterapeuta e o professor de educação física já atuando juntos na reabilitação”, diz o fisioterapeuta João Douglas Gil, especialista em fisioterapia ortopédica e esportiva e gravidez.
A equipe multidisciplinar é fundamental não só para o tratamento do problema, mas para a evolução do paciente. “Hoje em dia esse trabalho tende a estar cada vez mais conciso e com as diretrizes próximas da necessidade. O médico tem a função diagnóstica e acompanha toda a recuperação do indivíduo; o fisioterapeuta atua em todo o processo de recuperação do tecido, da lesão, da condição física (conforme cada caso); o nutricionista age na questão das adequações nutricionais; o educador físico, que entra em uma fase mais tardia mas não menos importante, recebe a pessoa no retorno à atividade física em si e trabalha o condicionamento a partir de uma transição, até a fase final. Todas as áreas devem se conectar. Ainda nesse caminho podemos ter a participação de um psicólogo para ajudar o paciente a superar processos psíquicos relacionados à lesão, aos medos”, explica o CEO da Care Club.
É possível fazer adaptações
Segundo os especialistas, mesmo pacientes em UTI podem iniciar o retorno à “atividade física”. Neste caso, até por meio de movimentos passivos. “Sempre tentamos dar um jeito. Se a pessoa não pode pisar, procuramos trabalhar membros superiores. Vamos restringir movimentos que provoquem dor e fortalecer e aumentar a capacidade muscular. Eu acredito que o profissional de saúde deva tratar além da doença. É preciso tratar principalmente a pessoa”, diz o fisioterapeuta Douglas Gil.
O médico Gustavo Magliocca faz questão de ressaltar ainda que a atividade física é um pilar da saúde. “Então, em nenhum momento, deve ser encarada como um problema. A questão é que tem que ser bem prescrita, bem orientada e bem executada.”
O paciente deve ser paciente
O tempo para retomar a atividade física mais vigorosa com segurança depende de vários fatores, começando pela pessoa, pelo tipo de lesão, pela localização da lesão – se é uma lesão muscular na coxa, se é na panturrilha, se aconteceu pela primeira vez, se é recorrente, se é em um paciente jovem, em um de meia idade ou mais idoso. “É fundamental que o praticante de atividade física tenha entendimento de todas as fases do processo de reabilitação. O retorno precoce pode gerar consequências ruins. Tudo deve ser avaliado pelos profissionais de saúde no processo de liberação. É algo complexo e que exige profundo entendimento do paciente”, argumenta Magliocca.
Só que a ansiedade para retomar ao “ritmo normal” costuma atrapalhar. Para aplacar esse estado, o fisioterapeuta João Douglas Gil costuma lembrar um ensinamento do filósofo Avicena. “A imaginação é metade da doença; a tranquilidade é a metade do remédio; e a paciência é o primeiro passo para cura”. Ele acredita que muitas vezes o problema de saúde serve como grande aprendizado e vem para trazer mudanças para a vida do paciente. “Temos de acreditar na nossa natureza, que é ser saudável e não doente. E entender que é um quadro transitório. Com orientação adequada e paciência, a vida volta a seu rumo.”
Fotos Karolina Grabowska, Kampus Production, Justin Luck/ Pexels
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