Existe uma atividade ser melhor que a outra? Uma pode ajudar ou atrapalhar a outra? Juntas podem fazer parte de um treino para potencializar condicionamento e força?
Yara Achôa, Fitness Brasil
27/1/2022
A insegurança de circular por aí, a falta de espaço e os treinos em casa nos últimos tempos ajudaram a resgatar um objeto muito utilizado na infância: a corda. Uma série de pesquisas mostra que pular corda é uma excelente atividade para ganho de condicionamento cardiovascular, coordenação e agilidade, mesmo para quem não possui habilidades atléticas. E por isso a atividade acabou sendo incorporada ao dia a dia pandêmico – para alguns como forma de substituir a corrida; para outros como primeiro passo na prática de exercícios e ganho de condicionamento.
Uma recente meta-análise de 21 estudos, publicada no Journal of Sports Sciences, teve como intenção saber se um programa de treinamento de saltos poderia influenciar o desempenho de corredores. “Essa coleta de diferentes estudos aborda como o treinamento de saltos (treinamento pliométrico ou de potência) pode influenciar na performance de corredores de endurance, corredores de média e longa distâncias. A única coisa mencionada sobre pular corda são dois trabalhos que continham o treinamento de corda como um dos componentes do programa de treinamento de salto. Mas o objetivo não foi saber se pular corda é melhor do que correr”, esclarece o professor de educação física João Paulo Pachela, sócio-diretor na Quark Sports.
Explicado isso, vale entender um pouco mais sobre as atividades, seus benefícios e como uma pode ajudar a outra.
Excelentes para o condicionamento
“Ambas são atividades predominantemente cardiovasculares e produzem adaptações positivas no sentido de melhorar o condicionamento físico geral. Também promovem altíssimo gasto calórico – claro que dependendo da intensidade do treino”, explica Pachela.
Andar de bicicleta, pular corda, entre outras atividades ajudam no condicionamento físico – é fato. Mas se você quer e gosta de correr, elas vão torná-lo um melhor corredor? “Esse estudo até menciona que sim, de maneiras diferentes, mas em uma questão muito específica. Por isso é preciso ter cuidado. Pelo princípio da especificidade, se você quer ser um bom corredor, você tem de correr.”
Facilidade na prática
Correr é um movimento básico do ser humano. Já o pular corda, apesar de partir de movimentos básicos, como saltar e saltitar, requer coordenação diferente. “Qualquer pessoa consegue sair correndo. Pular corda nem todo mundo consegue, embora seja possível aprender”, diz o especialista da Quark. Para muita gente, trabalhar até 10 minutos de salto contínuo é mais difícil do que correr 30 minutos.
Um outro ponto para ser levado em conta: embora a corrida seja muito simples, requer espaço ou equipamento apropriado para sua execução. Quem não quer sair de casa ou não possui uma esteira, enfrentará essa dificuldade. Para pular corda, um cantinho serve.
E qualquer tipo de corda está valendo. As simples e básicas atendem ao propósito do exercício. Só vale ficar atento à questão da regulagem. “Existem diferentes tamanhos de cordas e de pessoas. Mas é simples individualizar o ajuste: pegue cada uma das extremidades com cada uma das mãos e pise no meio da corda para fazer com que alcancem a mesma altura. Alguns autores dizem que devem ficar na altura do peito; outros que o ideal é estar na altura do ombro. Mas essas duas marcações são boas referências.”
Para quem está iniciando na corda, que é uma atividade de médio impacto com vários saltos sucessivos – o que pode levar ao risco de lesões em decorrência do uso excessivo –, outra recomendação é praticar em um piso que absorva o impacto, como um tapete emborrachado ou carpete. E usar um tênis confortável. É importante começar devagar, para dar ao corpo tempo suficiente para se adaptar.
Corda para corredores
A meta-análise publicada no Journal of Sports Sciences cita alguns benefícios de pular corda para corredores de endurance. Uma recomendação, inclusive, é saltar cinco minutos de corda como forma de aquecimento, a fim de melhorar a taxa de aplicação de força e a rigidez do arco implantar. João Paulo Pachela explica: “Trata-se da capacidade que você tem de aplicar mais força em menos tempo de contato com o solo, o que faz com que o deslocamento seja melhor. É um dos fatores de economia de movimento que contribui muito no desempenho. Em relação à rigidez do arco plantar, também apresentaria adaptações benéficas para o que a gente chama de ciclo alongamento-encurtamento – imagine que o músculo é um elástico e quando você o estica, acumula energia; quando o solta, ele sai com mais força. Pular corda contribui positivamente para essa dinâmica.”
Outro ponto destacado no estudo diz que um treino de dois minutos e 30 segundos de corda, de duas a quatro vezes por semana, melhora a performance de saltos em corredores. E isso impacta de novo na questão de economia de movimento. “Por outro lado, pode expor o atleta a lesões agudas e a lesões de uso crônico”, alerta Pachela.
Benefícios extras
– Pular corda promove melhora da coordenação motora e do equilíbrio. E, segundo os especialistas, quanto mais você treina, melhor fica sua coordenação motora específica.
– Atividade de saltos aumentam o número e a eficiência das fibras musculares de contração rápida, que são usadas em movimentos rápidos e explosivos.
– Exercícios de impacto, como correr e pular corda, melhoram a densidade óssea. “De fato criam uma adaptação muito positiva no tecido ósseo. Porém o que mais gera adaptações positivas é quando esse impacto, essa pressão, ocorre de maneira longitudinal no osso – ação obtida com a prática da musculação”, diz Pachela.
Leia também
Gostou? Compartilhe: