Conversamos com o Professor Célio de Paula Júnior, de Goiânia, que fala de estilo de vida, prescrição de treinamento e muito mais a respeito do segundo tipo de câncer mais comum entre os homens
Yara Achôa, Fitness Brasil
17/11/2022
O Novembro Azul, mês do combate ao câncer de próstata, é um movimento mundial que surgiu em 2003, na Austrália, aproveitando o foco dado ao Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, 17 de novembro. “A ideia é reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do segundo tipo de câncer mais comum entre os homens. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a cada 38 minutos um homem morre no Brasil em virtude da doença”, explica o Professor Célio de Paula Júnior, Coordenador dos Cursos de Educação Física da Faculdade Araguaia, Professor da Universidade Federal de Goiás, Doutorado em Ciências da Saúde, Oncologia e Envelhecimento Humano.
A próstata é uma glândula masculina que se localiza na parte baixa do abdômen. É um órgão pequeno, tem a forma de maçã e se situa logo abaixo da bexiga e à frente do reto (parte final do intestino grosso); envolve a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada; e produz parte do sêmen.
O câncer de próstata, mais do que qualquer outro tipo, é considerado um câncer da terceira idade, já que, de acordo com o INCA, cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas taxas de incidência no Brasil pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos, pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento na expectativa de vida.
Em sua fase inicial, a doença tem evolução silenciosa. Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma ou, quando apresentam, são semelhantes aos do crescimento benigno da próstata (dificuldade de urinar, necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite). Na fase avançada, pode provocar dor óssea, sintomas urinários ou, quando mais grave, infecção generalizada ou insuficiência renal.
Confira a seguir a entrevista com o Professor Célio de Paula Júnior, que reforça a necessidade do homem dar mais atenção à sua saúde e da adoção de um estilo de vida saudável, onde o exercício tem papel fundamental.
Homens ainda negligenciam mais a saúde do que mulheres?
Essa questão de que o homem é mais omisso em relação à saúde é um fato. A mulher realmente tende a ter mais cuidados em relação à prevenção. O homem quando procura um médico, normalmente, já tem um sintoma bem específico. E isso acaba dificultando o tratamento e aumentando o risco de mortalidade. O câncer de próstata é uma doença silenciosa, não apresenta sintomas no início – eles tendem a surgir a partir do momento em que a doença se torna algo mais grave e podem se caracterizar por dor, maior frequência para urinar, presença de sangue na urina e no sêmen. Daí a importância do alerta feito no Novembro Azul.
Como deve ser a rotina de cuidados para detectar um possível câncer de próstata?
Homens a partir dos 45 anos devem ter uma rotina de prevenção específica para o câncer de próstata, se houver histórico familiar em relação à doença. Para a população de modo geral, a recomendação do INCA é que o acompanhamento seja feito a partir dos 50. Os principais exames são o PSA (antígeno prostático específico, exame de sangue para avaliar a dosagem dessa substância) e o toque retal.
Mesmo sem sintomas é importante procurar a assistência médica para ajustar as condutas em relação à detecção precoce. No Brasil, por volta de 60% dos casos são de tumores já bem avançados – fruto justamente da omissão. Para melhorar as condições de sobrevida e também ter uma condição de perspectiva em relação ao tratamento, o diagnóstico precoce se torna extremamente importante.
Outro cuidado que deve entrar na rotina, embora seja pouco falado, diz respeito a sobrepeso e obesidade. Dos dezenove tipos de tumores mais detectados no Brasil, onze também têm como causa a questão da obesidade. E mais: o tratamento de câncer desse paciente obeso se torna mais complexo e o risco de mortalidade é maior. Então combater a obesidade é uma forma de prevenção ao câncer.
Qual o papel do exercício físico na prevenção do câncer de próstata?
A primeira coisa a ser enfatizada: tem que ter regularidade em relação ao exercício. Não é fazendo uma vez por semana ou a cada 15 dias, que a pessoa vai se beneficiar – embora a cada sessão de treinamento vai se adquirindo condições melhores de saúde.
O ideal seria de três a cinco vezes por semana – o que ajudaria na prevenção ao câncer, de modo geral, em até 40%. Dados de 2018 do American College, o Colégio Americano de Medicina do Esporte, apontam que na faixa etária onde temos maior incidência de câncer de próstata – a partir de 50 anos – essa frequência aparentemente reduz até 11% do risco de câncer de próstata. Isso falando da pessoa que vai iniciar os exercícios a partir dessa idade. Já os que iniciam na fase adulta, antes de chegar à fase de idosos, podem ter até 40% menos chances de desenvolver o câncer. Então, em diferentes perspectivas, temos uma condição de prevenção.
Para quem que já tem o diagnóstico, não reduzimos as perspectivas. O mesmo trabalho de 2018, do American College, aponta esse caráter de prevenção secundária – quando o indivíduo já tem o diagnóstico e está em tratamento e a chance dele vir a falecer em virtude do câncer de próstata chega até 49%. Temos quase 50% de chance a mais de sobrevida justamente por conta do estilo de vida ativo.
Mas a prevenção também passa pelos cuidados com alimentação, redução do consumo de bebidas alcoólicas, a não utilização do tabaco ou qualquer tipo de fumógeno, bem como o combate ao sobrepeso e a obesidade.
Quem nunca fez exercício antes, pode começar estando em tratamento?
Deve! Temos vários estudos que dizem que a qualquer momento que a pessoa iniciar seu programa de exercícios, pode vir a se beneficiar. O importante é procurar um profissional de Educação Física que possa, de forma individualizada, prescrever o treinamento, os exercícios, de forma a atender as diferentes condições que o paciente tem.
Existem diferentes formas de tratamento para o câncer, diferentes perspectivas e, naturalmente, só o profissional Educação Física, juntamente com a equipe multidisciplinar – médicos, psicólogos, nutricionistas, profissionais de saúde de modo geral –, podem traçar uma perspectiva em relação à condição do paciente.
Nunca é tarde para iniciar um programa de exercício regular, mas o quanto antes iniciar, maior é o benefício.
Quanto tempo de exercício e quantas vezes por semana seriam capazes de impactar positivamente na prevenção do câncer? E quais as atividades mais indicadas?
Em relação a frequência e ao tipo de exercício, é tudo muito individual. O profissional de Educação Física é que pode realmente dar uma direção. Mas, em linhas gerais, o paciente vai ter benefícios a partir de três vezes por semana – de três a cinco vezes é o mais indicado. Com isso, levando em conta a prevenção primária, é possível reduzir em 40% as chances de desenvolver qualquer tipo de tumor – e não só o câncer de próstata.
Já no que diz respeito ao paciente que está em tratamento, a sobrevida vai ser significativamente maior se ele tiver um estilo de vida ativo, comparado com aqueles que vão permanecer no sedentarismo. Costumo falar em aulas, cursos, palestras que faço regularmente que a questão de manter o estilo de vida ativo, mesmo diagnosticado, assegura ao paciente uma maior condição de sobrevivência.
Reforço: quanto antes o indivíduo se atentar a isso – é lógico que a própria doença carrega um caráter de fadiga, descrença, desânimo, depressão, que afasta o paciente do estilo de vida ativo –, quanto mais se preocupar com seu bem-estar físico e mental, mais condições ele vai ter de enfrentar a doença e os tratamentos.
Em relação às atividades recomendas, igualmente é muito individual. Mas como temos uma atenção grande em relação a intensidade do treinamento, diferentes frentes podem ser adotadas, como a corrida, a musculação, o cross training. O mais importante adotar um estilo de vida ativo e ter regularidade. Assim teremos maiores chances de prevenção a um tumor primário, bem como redução do risco de metástase quando já existe um tumor detectado.
O exercício entra até como componente de prevenção a tumores após o término de um tratamento – para que se evite reincidência. Porém, só um profissional de Educação Física, que tem vivência com grupos especiais e que já desenvolveu trabalhos na área de prevenção ao câncer, deve prescrever um programa de exercício de forma adequada.
Excelente matéria. Divulgarei na empresa!