Por Áderson Loureiro, colunista Fitness Brasil
No artigo anterior abordamos o treinamento de força e as dores no quadril em pessoas com síndrome do impacto femoroacetabular (SIFA). E como prometido o assunto desta coluna irá abordar e discutir alguns exercícios não indicados para estas pessoas, exceto atletas no qual o gesto motor é imprescindível para performance. Porém, nós profissionais, em conjunto com estes atletas, devemos considerar os riscos e os benefícios.
A SIFA pode ser definida como uma síndrome, onde alterações discretas na anatomia acetabular e femoral, causam lesões da cartilagem articular e do labrum (lábio) acetabular, que podem evoluir para artrose do quadril (Cohen, 2015). Além disso essa desordem clínica, é relacionada com os movimentos do quadril que apresenta uma tríade de sintomas, sinais clínicos e achados por imagem, apresentando contato prematuro entre a cabeça femoral e o acetábulo (Wright et al., 2021).
Apesar do consenso internacional, no acordo de Warwick, que reconhece o cuidado conservador como estratégia de tratamento para síndrome, ainda não existe consenso sobre qual o melhor exercício para prescrição direcionada à esta população (Griffin et al., 2016; Kemp et al., 2018). Devido ser geralmente assintomática durante a adolescência e início da fase adulta, períodos estes onde a solicitação muscular e articular ocorrem invariavelmente com maior intensidade e volume, esportes como Futebol e Voleibol, treinamento de artes marciais tais como Jiu Jitsu, Kung Fu, Caratê, práticas artísticas como a Dança, são exemplos de atividades com alta demanda na articulação do quadril. Sendo assim, cabe salientar que atualmente a SIFA é a maior e mais comum causa de dor no quadril em atletas jovens (Arashi et al., 2019).
Independentemente do tipo de SIFA que o aluno apresente, CAME, PINCER ou MISTA (ver artigo anterior), a artrocinética do quadril deixa o mesmo suscetível à deterioração dos tecidos envolvidos. Desde o diagnóstico e por consequência o tratamento serem desafios importantes, pois as diversas fontes e mecanismos que podem acarretar as mesmas (Trigg, SD & 2020, n.d.), deve ser destacado que estas lesões acarretam potencialmente o risco aumentado para o desenvolvimento de osteoartrose (OA) (King et al., 2018).
Testes para avaliar a articulação
A comprovação da SIFA deve ser realizada por um conjunto de características e procedimentos. Dentre estes, os sinais clínicos como dor e disfunção, exames por imagens além de testes clínicos. O teste do impacto anterior é executado com o sujeito em decúbito dorsal, realizando flexão do quadril em 90 graus, adução e rotação interna, conhecido como Teste de Faddir (De et al., 2018). A presença de dor caracteriza o teste como positivo (Figura 1).
Sendo assim, todos e quaisquer exercícios que mimetizem o teste de Faddir, apresentam alto risco para o desenvolvimento da SIFA.
Exercícios no Treinamento de Força
O treinamento de força (TF), apresenta e entrega muitos benefícios aos praticantes que contribuem para a melhora no desempenho e como ferramenta para proteger as articulações, independentemente dos públicos, tais como, crianças, adolescentes, adultos e idosos (Faigenbaum, 2013)(Fragala et al., 2019)(Schoenfeld & Grgic, 2020)(Grgic et al., 2020), mas salientamos que a seleção criteriosa dos exercícios é fundamental para prescrição dos programas de treinamento. Podemos destacar que através do TF, o volume muscular, a qualidade muscular e a atividade neuromuscular são melhoradas. Segundo Loureiro e colaboradores, pessoas com osteoartrose de quadril apresentam diversos desequilíbrios musculares comparadas com o segmento não afetado e com indivíduos sem as lesões articulares (controles) (Loureiro et al., 2013).
Cabe ressaltar que muitas pessoas apresentam desconforto na articulação do quadril unilateral ou bilateralmente, mas não necessariamente apresentam SIFA. Entretanto, por se tratar de uma lesão progressiva, os testes ortopédicos como o Teste de Faddir (Faduri) e Teste de Fabere/ Patrick são importantes para a detecção e/ou acompanhamento do comportamento artrocinemático da articulação do quadril.
Dentre vários exercícios realizados no treinamento que podem agravar o quadro clínico e aumentar os sintomas, podemos destacar os que seguem:
– Leg Press Horizontal: na fase excêntrica ocorre a diminuição do ângulo articular entre o fêmur e a pelve e por consequência apresenta uma grande compressão articular.
– Leg Press 45: Obedecendo a mesma cinemática do Leg Press Horizontal, entretanto, devido o ângulo inicial entre as coxas e o tronco na posição inicial ser menor e por consequência, com maior compressão articular, o profissional de Educação Física deve considerar com zelo a prescrição do Leg Press 45º (Figura 2), que apesar das vantagens e ganhos em termos de performance, este exercício apresenta alto risco de carga compressiva.
– Subida Unilateral no Caixote/ Banco: Assim como os exercícios anteriores, a fase excêntrica, durante a descida promove compressão por impacto do colo femoral contra a região apical do acetábulo, submetendo o labrum acetabular a grande estresse compressivo e de cisalhamento (Figura 3).
Como mencionado no artigo anterior, é muito importante que nós, profissionais de Educação Física e Fisioterapeutas do esporte, tenhamos muita atenção e sejamos criteriosos na prescrição e seleção dos exercícios. Que sejamos atentos nas avaliações e reavaliações para entregar o melhor resultado com a maior segurança.
Na próxima coluna vamos abordar e discutir alguns exercícios de alongamento, mobilidade e descompressão indicados para pessoas que apresentam SIFA. Grande abraço e até a próxima!
Referências Bibliográficas
Arashi, T., Murata, Y., Utsunomiya, H., Kanezaki, S., Suzuki, H., Sakai, A., & Uchida, S. (2019). Higher risk of cam regrowth in adolescents undergoing arthroscopic femoroacetabular impingement correction: a retrospective comparison of 33 adolescent and 74 adults. Acta Orthopaedica, 90(6), 547–553. https://doi.org/10.1080/17453674.2019.1678091
Cohen, M. (2015). Lesões no esporte, diagnóstico, prevenção e tratamento (2 ed). Revinter.
De, E., Loures, A., Jader, F., Pereira, C., Loures, D. N., Fernando, A., & Júnior, M. (2018). Coexistence of Femoroacetabular Impingement and Snapping Hip Due to Osteochondroma of the Femoral Neck – a Case Report. International Journal of Orthopedics and Rehabilitation, 5(1), 43–47. https://doi.org/10.12974/2313-0954.2018.05.5
Faigenbaum, A. D. (2013). Resistance training for children and adolescents. In Resistance Training for the Prevention and Treatment of Chronic Disease (pp. 257–273). https://doi.org/10.1542/9781610026109-risks_and_benefits_ch05
Fragala, M. S., Cadore, E. L., Dorgo, S., Izquierdo, M., Kraemer, W. J., Peterson, M. D., & Ryan, E. D. (2019). Resistance training for older adults: Position statement from the national strength and conditioning association. Journal of Strength and Conditioning Research, 33(8), 2019–2052. https://doi.org/10.1519/jsc.0000000000003230
Grgic, J., Garofolini, A., Orazem, J., Sabol, F., Schoenfeld, B. J., & Pedisic, Z. (2020). Effects of Resistance Training on Muscle Size and Strength in Very Elderly Adults: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. In Sports Medicine (Vol. 50, Issue 11, pp. 1983–1999). Springer Science and Business Media Deutschland GmbH. https://doi.org/10.1007/s40279-020-01331-7
Griffin, D. R., Dickenson, E. J., O’Donnell, J., Agricola, R., Awan, T., Beck, M., Clohisy, J. C., Dijkstra, H. P., Falvey, E., Gimpel, M., Hinman, R. S., Hölmich, P., Kassarjian, A., Martin, H. D., Martin, R., Mather, R. C., Philippon, M. J., Reiman, M. P., Takla, A., … Bennell, K. L. (2016). The Warwick Agreement on femoroacetabular impingement syndrome (FAI syndrome): An international consensus statement. British Journal of Sports Medicine, 50(19), 1169–1176. https://doi.org/10.1136/bjsports-2016-096743
Kemp, J. L., King, M. G., Barton, C., Schache, A. G., Thorborg, K., Roos, E. M., Scholes, M., Grimaldi, A., Semciw, A. I., Freke, M., Risberg, M. A., Reiman, M. P., Mayes, S., Pizzari, T., Heerey, J. J., Lawrenson, P. R., Ingelsrud, L. H. H., & Crossley, K. M. (2018). Is exercise therapy for femoroacetabular impingement in or out of FASHIoN? We need to talk about current best practice for the non-surgical management of FAI syndrome. British Journal of Sports Medicine. https://doi.org/10.1136/bjsports-2018-100173
King, M. G., Lawrenson, P. R., Semciw, A. I., Middleton, K. J., & Crossley, K. M. (2018). Lower limb biomechanics in femoroacetabular impingement syndrome: a systematic review and meta-analysis. Bjsm.Bmj.Com, 52, 566–580. https://doi.org/10.1136/bjsports-2017-097839
Loureiro, A., Mills, P. M., & Barrett, R. S. (2013). Muscle weakness in hip osteoarthritis: a systematic review. In Arthritis care & research (Vol. 65, Issue 3, pp. 340–352). https://doi.org/10.1002/acr.21806
Schoenfeld, B. J., & Grgic, J. (2020). Effects of range of motion on muscle development during resistance training interventions: A systematic review. SAGE Open Medicine, 8, 205031212090155. https://doi.org/10.1177/2050312120901559
Trigg, SD, J. S.-C. S. M., & 2020, U. (n.d.). Femoroacetabular impingement syndrome. Journals.Lww.Com.
Wright, A. A., Tarara, D. T., Gisselman, A. S., & Dischiavi, S. L. (2021). Do currently prescribed exercises reflect contributing pathomechanics associated with femoroacetabular impingement syndrome? A scoping review. In Physical Therapy in Sport (Vol. 47, pp. 127–133). https://doi.org/10.1016/j.ptsp.2020.11.034
Prof. Dr. Áderson Loureiro é doutor (PhD) em Biomecânica (Griffith Universiity-Australia), mestre em Biomecânica (UDESC), com especialização em Medicina do Esporte (PUCRS) e Gestão da Qualidade (UNISINOS), docente da UNISINOS, proprietário da Advisory – Consultoria em Avaliação e Prescrição de Treinamento, CEO da Alpha Pro System – Plataforma de Avaliação, Prescrição e Gestão (www.alphaprosystem.com). Instagram: @professoraderson, @alphaprosystem, @advisoryadersonloureiro
Gostei muito. Parabéns!