Autor do best seller “Emagrecendo, quebrando mitos e mudando paradigmas”, Paulo Gentil traz ao FitBR News informações atualíssimas para o profissional de Educação Física ajudar seu aluno no processo de perda de peso
Yara Achôa, Fitness Brasil
30/1/2023
Estudo realizado pelo Atlas Mundial da Obesidade no ano passado, divulgado pela Federação Mundial da Obesidade, aponta que a população adulta com obesidade no Brasil chegue a 29,7% até 2030. No cenário mundial, o número é igualmente preocupante. Estima-se que mais de um bilhão da população adulta apresentará algum grau de obesidade nos próximos oito anos – ou seja, cerca de 17,5% da população global.
A obesidade e o excesso de peso são fenômenos que se alastram de forma descontrolada na sociedade moderna, acarretam prejuízo econômico e impactam a vida de milhões de pessoas. E não se pode ignorar a busca constante de formas eficientes de modificar a silhueta com finalidades estéticas. Mas apesar da perda de gordura ser um objetivo muito comum, os métodos atuais parecem não ser capazes de atender a maioria das pessoas. Doutor em Ciências da Saúde, mestre em Educação Física, autor do livro “Emagrecimento: Quebrando Mitos e Mudando Paradigmas”, com mais de 100 artigos científicos publicados, Paulo Gentil é um dos maiores especialistas no tema no mercado. E é com ele que conversamos para tirar dúvidas e trazer as mais importantes informações para você, enfim, poder ajudar seus alunos. Confira!
Principais mitos sobre emagrecimento
“Vemos gente comendo pouco e engordando, outros emagrecendo sem grandes restrições, algumas pessoas se matando na academia para nada, enquanto outras conseguem grandes mudanças em pouco tempo”, diz Gentil. Ele divide sua análise sobre os mitos em alguns pontos:
ALIMENTAÇÃO
As pessoas acham que comer pouco e até passar fome é o que emagrece. Mas essa questão de contar calorias já foi desmistificada e, hoje, sabemos que é mais importante a qualidade da alimentação do que a quantidade das calorias que a pessoa ingere. Só para dar um exemplo: ingerir 100 calorias de chocolate não tem o mesmo impacto metabólico do que ingerir 100 calorias de fruta – gasta-se uma quantidade de energia diferente para serem digeridas, além do que produzem interações diferentes no metabolismo. Ao comer chocolate, você tem uma maior resposta de insulina que libera substâncias que favorecem o acúmulo de gordura; já as fibras das frutas atuam em vias fisiológicas diferentes e as vitaminas e os minerais podem ativar processos metabólicos que até ajudam a emagrecer. Então, quando falamos de alimentos muito ricos em gordura, eles podem influenciar na sua microbiota, causar uma inflamação sistêmica, que pode fazer com que seu metabolismo piore, favorecendo o ganho de peso. Portanto, não é uma questão apenas de contar caloria. Isso é um mito muito forte que a gente vê ainda hoje.
ATIVIDADE FÍSICA
Vamos falar da caloria gasta na hora do exercício. A gente foi acostumado a enxergar o emagrecimento de duas formas:
– A primeira é achar que durante o exercício você deveria queimar gordura, aquela questão de trabalhar na zona de queima de gordura.
– A segunda delas é que, durante o exercício, você deveria queimar muitas calorias.
Ambas visões, que eu chamo de abordagem metabólica e matemática, respectivamente, só se preocupam com o que acontece durante o exercício. E atualmente sabe-se que o que importa para o emagrecimento é o que acontece depois. Devemos procurar prescrever uma atividade que faça com que o indivíduo gaste mais calorias nas horas ou até mesmo nos dias seguintes ao exercício. Então não interessa muito se nas 24 horas do seu dia você passe uma hora gastando calorias e ao término do exercício seu metabolismo desacelere e essas calorias sejam recuperadas. Isso não faz tanto sentido. Um dos maiores mitos em relação à atividade física é só se preocupar com o que acontece durante o exercício e não com o depois.
ESTILO DE VIDA
Somando as duas visões anteriores, temos a visão paranoica. As pessoas acham que essa vida paranoica, essa vida abstênica, é o que vai fazer emagrecer. Já existem estudos mostrando que, na verdade, quando você se coloca em uma situação paranoica de estresse elevado, passa a ter tendência a engordar.
Aqui vale destacar o paradoxo francês: os franceses têm uma alimentação muito mais permissiva, eles não fazem grandes restrições, e têm um índice de obesidade baixa e vivem mais. Alguns grupos de pesquisadores verificaram que isso tem muito a ver com a relação que os franceses têm com o alimento. As pessoas acham que o estilo de vida paranoico, de viver se proibindo tudo, sentindo culpa por tudo, é bom. Mas não é. Outro estudo, com universitárias americanas, verificou que quanto maiores os escores de foco na magreza – essa maior preocupação –, mais as meninas tinham gordura e menos massa muscular, mesmo que comessem pouco e se exercitassem muito. Essa visão paranoica de ser magra, então, acabava levando a ter piores composições corporais o que era associado a esses eixo que falei anteriormente do estresse levando a alterações metabólicas.
HORMÔNIOS
As pessoas também ainda acreditam que deficiências hormonais ou alterações hormonais seriam associadas à facilidade de engordar. Isso é falso. Apenas uma quantidade muito pequena de pessoas têm deficiências hormonais relevantes. As pessoas estão achando que recorrer ao hormônio seria a solução, o que na verdade pode causar mais problemas. Porque se você não tem uma deficiência real, se não tem níveis baixos de hormônio clinicamente constatado, e recebe essas doses de hormônio, elas serão supra fisiológicas e deteriorarão sua saúde. Essa história de dar hormônio da tireoide, dar testosterona para as pessoas, pode até fazer com que emagreçam no curto prazo, mas no longo prazo, além de viverem menos, elas vão engordar muito mais.
IDADE
Outro mito é sugerir que as pessoas estejam necessariamente fadadas a engordar quando envelhecem – e não há mais o que fazer, a não ser repor hormônios. Hoje a gente sabe que existem alterações metabólicas por conta da idade, mas elas não são irreversíveis. Com uma boa alimentação, bom programa de atividade física, elas podem ser revertidas. Muito do que se acreditava ser fruto da idade, na verdade, é fruto dos maus hábitos que a gente adquire. Quando a gente envelhece passa a comer pior, exercita-se menos e em menor intensidade. A idade é um problema muito mais associado ao comportamento do que um problema inevitável.
Emagrecer parece um assunto complicado
Parece complicado porque queremos fazer a mesma coisa de décadas atrás. A questão toda do emagrecimento é que ele envolve mudança de hábitos e a gente quer sempre ir para as coisas mais simples, quer seguir com a mesma fórmula. E como essas formas acabam não funcionando, as pessoas acabam procurando culpados externos e achando que algum milagre, algum produto, vai resolver. Um dos maiores problemas é que as pessoas não querem emagrecer, elas querem ser emagrecidas. Então não querem tomar atitudes que favoreçam a perda de peso. Essas pessoas querem que o agente externo apareça e faça com que elas se tornem magras do dia para a noite.
Papel fundamental do profissional de Educação Física
Os profissionais que vão ajudar efetivamente no emagrecimento são os que atuam com mudança de comportamento. Temos o médico – e aí incluindo o endocrinologista –, ele tem sua importância se tivermos uma questão clínica a ser resolvida, como uma deficiência hormonal constatada. Mas os principais agentes que vão atuar na mudança de comportamento são o nutricionista e o profissional de Educação Física. Pode ser que a pessoa tenha dificuldade de iniciar essa mudança e aí eu diria que um psicólogo também tem um papel muito importante nesse processo para ajudar a pessoa entender o que limita a mudança.
É essencial que o profissional de Educação Física entenda o funcionamento do corpo humano, tanto em repouso quanto em resposta ao exercício. Porque a ciência evoluiu tanto, a nossa área evoluiu tanto, mas as pessoas continuam repetindo os mesmos aprendizados de 40 ou 50 anos atrás. Não basta dizer tantas calorias equivalem a tantos gramas de gordura. O que a gente precisa fazer hoje é entender quais são as vias fisiológicas que fazem a gordura se acumular, quais são as vias bioquímicas e fisiológicas que fazem a gordura ser perdida e como respondem com exercício. Porque conseguindo identificar qual o problema da pessoa conseguimos, por meio do exercício, ajudar a resolver. Diria que o profissional de Educação Física precisa entender de verdade como o corpo funciona no repouso e na resposta ao exercício.
Para saber mais sobre o assunto
O livro “Emagrecimento, quebrando mitos e mudando paradigmas” tornou-se um best seller. E tenho muito orgulho disso. Portanto, recomendaria a leitura para quem quer entender mais sobre o tema. Existem muitos mitos, tem muita simplificação inadequada do processo de perda e ganho de gordura – no livro eu vou desde a fisiologia até as formas de intervir no funcionamento do corpo. E também sugiro acompanhar o conteúdo no Nerdflix, um canal de aulas que eu tenho – são mais de 200 aulas, baseadas em milhares de artigos, onde abordo diversos temas de maneira aprofundada, fazendo explicações e contextualizações e você tem a opção de ver a implicação teórica e prática em diversos campos. Por exemplo: tem maratonas sobre emagrecimento, sobre questões específicas e até pontuais de perda de gordura localizada. Recomendo esses dois canais de informação. E em agosto estarei também na IHRSA Fitness Brasil, com um curso sobre Emagrecimento. Uma ótima oportunidade para trocarmos boas ideias.
Excelentes abordagens sobre mitos e concepções extravagantes sobre uso de produtos que não trazem efeitos duradouros e saudáveis. Parabéns. Quero comprar o livro‼️