A ciência aponta que o treinamento de força, bem prescrito por um profissional de Educação Física, contribui de maneira eficaz com a saúde mental. O professor Raphael Carvalho explica como isso acontece
Yara Achôa, Fitness Brasil
1/2/2023
A prática regular de exercícios físicos é considerada uma ferramenta fundamental para a boa qualidade de vida, diminuindo o risco de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, hipertensão arterial e obesidade, entre outras. E também está associada ao bem-estar e à saúde mental – auxiliando inclusive em quadros de ansiedade e depressão. Muito se fala em atividades aeróbicas, que levam o organismo a liberar hormônios e neurotransmissores capazes de proporcionar sensações de relaxamento e prazer. Mas o treinamento de força também tem importante papel e pode ser muito eficaz nesses casos.
“O número de pessoas com depressão e ansiedade aumentam a cada ano no Brasil e no mundo. Diversos fatores podem levar a isso. Ainda não temos uma clareza, no que tange à ciência, do real motivo. Porém, o primeiro aspecto a ser considerado é que depressão não é frescura e, sim, uma doença. Diversas alterações neuroendócrinas podem estar presentes e uma das formas de ajudar essas pessoas é por meio da prescrição criteriosa do treinamento. E por quê recorrer ao treinamento resistido, como a musculação? Porque a atividade promove uma modificação positiva do fluxo sanguíneo cerebral, que leva a repercussões fisiológicas, metabólicas e hormonais que impactam no sistema nervoso central – promovendo a sensação de bem-estar e contribuindo para redução dos sintomas de depressão e ansiedade”, explica o professor Raphael Carvalho, doutor e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Fisiologia do Exercício.
Exercícios bem planejados
Segundo o especialista, hoje a ciência já mostra de maneira clara e precisa a ação do treinamento resistido na vida de pessoas que têm depressão. “Em um dos estudos, publicado recentemente, pesquisadores randomizaram – ou seja, dividiram de maneira aleatória – 41 pessoas: um grupo que fazia musculação e um que não fazia. O grupo ativo se dedicou três vezes por semana, por 12 semanas. Os resultados mostraram que a musculação promoveu redução dos sintomas de depressão e ansiedade, independentemente da idade da pessoa, do nível de força, da função cognitiva. Isso tudo foi avaliado pela escala de depressão de 15 itens. Então é importante que o profissional de Educação Física tenha clareza do impacto que pode promover na vida das pessoas.”
Vários estudos, inclusive, mostram que não é preciso treinar todos os dias para sentir todos os benefícios fisiológicos – seja do ponto de vista cerebral, cardiovascular, metabólico e muscular. “Se a pessoa treinar cerca de três vezes por semana, cada sessão de até 30 minutos, poderá ter adaptações fisiológicas importantes, seja para o tratamento da depressão, para emagrecimento, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares.E isso é muito importante, é uma quebra de paradigma, porque muita gente ainda pensa que treinar três vezes por semana, por 30 minutos, é muito pouco. A pessoa provavelmente não vai ser um atleta, mas vai ter aumento da função cardíaca, da função muscular e metabólica, redução do risco de doenças cardiometabólicas, redução da mortalidade. É fundamental que o profissional de Educação Física e as pessoas leigas saibam disso. Isso é ciência”, enfatiza Carvalho.
Várias formas de treinamento
No que diz respeito ao tratamento da depressão e da ansiedade existem diversas possibilidades e modelos de treinamento. “A pessoa pode explorar, por exemplo, corrida, bicicleta, natação, esportes coletivos – inclusive vôlei e futebol. O que é fundamental é que se tenha uma prescrição criteriosa do treinamento. Porque não é entretenimento – pode até também ser entretenimento –, mas quero deixar claro que é preciso manipular a intensidade, o volume e a frequência semanal.”
O professor explica ainda que o treinamento resistido é fundamental, porém existem várias apresentações. “Pode ser musculação, como também treinamento funcional, crossfit, mahamudra; pode explorar o próprio peso corporal, fazer atividades em casa e modalidades esportivas em grupo. Pode fazer qualquer atividade desde que seja prescrita de maneira criteriosa, especialmente para quadros de ansiedade e depressão. O exercício físico é tratamento e, assim como um medicamento, tem que ter sua dose adequada. Precisa ser criteriosamente prescrito e planejado pelo profissional de Educação Física”, finaliza Raphael Carvalho.
Gostei do post. Tenho 53 anos, sou professor do ensino fundamental e tenho TAG e Depressão. Já tentei algumas vezes fazer musculação mas não consigo dar continuidade. Pretendo voltar e tentar de novo. Já estou em tratamento há três anos.