Muito além da autodefesa, elas desenvolvem capacidades físicas importantes, assim como capacidades motoras essenciais. Os especialistas Marcelo Capella e Fabrício Boscolo explicam esses ganhos
Yara Achôa, Fitness Brasil
3/2/2023
As artes marciais são mais do que movimentos e ensinamentos para autodefesa. Elas despertam a consciência sobre o próprio corpo; aprimoram as habilidades; melhoram a postura e o equilíbrio; aumentam a força, a agilidade, o reflexo e a capacidade de concentração. De maneira geral, trabalham com todas as capacidades físicas e motoras e ainda liberam endorfina e serotonina no cérebro, que promovem sensação de prazer e bem-estar.
“As lutas contribuem muito para o ganho do condicionamento físico. A maioria das modalidades utiliza exercícios aeróbios e de força na preparação física dos praticantes, além de ser uma atividade de alta intensidade, pois exige velocidade, força, agilidade, resistência aeróbia e muscular”, explica Marcelo Capella, personal trainer e preparador físico em alto rendimento com 25 anos de experiência na área, criador das metodologias Gracie Functional e Mar Funcional.
Faixa preta de judô, doutor em Educação Física pela UNICAMP, docente da Universidade Federal de Pelotas, autor de mais de 200 artigos científicos e de diversos livros, Fabricio Boscolo reforça dizendo que a literatura científica é bastante ampla em demonstrar que a prática de lutas melhora o condicionamento físico. E isso se aplica a diferentes grupos populacionais, desde crianças até pessoas idosas, incluindo pessoas com deficiências. “As artes marciais e as modalidades esportivas de combate têm natureza intermitente (por isso o HIIT, treinamento intervalado de alta intensidade funciona tão bem para essas práticas) e uma moderada demanda cardiorrespiratória e neuromuscular. Isso significa dizer que, de modo geral, as práticas contribuem para o aumento da aptidão física. No entanto, algumas modalidades podem melhorar mais alguns aspectos que outras. Por exemplo, o Brazilian Jiu-Jitsu tende a aumentar mais a força e a resistência de membros superiores que o Taekwondo, que por sua vez melhora mais a velocidade e a agilidade de membros inferiores. Mas isso são detalhes, de modo amplo, todas as lutas irão auxiliar na melhora da força, resistência cardiorrespiratória, velocidade e flexibilidade – capacidades físicas que compõem a aptidão física relacionada à saúde”, completa.
Muitos outros benefícios
De aumento da autoconfiança, segurança, disciplina a um corpo bastante saudável. “Muitas modalidades de lutas são usadas, inclusive, para o emagrecimento devido ao grande gasto calórico proporcionado ao praticante, que utilizara como fonte de energia a gordura durante os treinamentos mais intensos. Para perda de peso Muay Thai e boxe são as mais indicadas; já para fortalecer a musculatura considero jiu-jitsu e judô as mais adequadas”, diz Capella.
Boscolo vai além e revela que a prática de lutas impacta em áreas que as pessoas nem imaginam. “Por exemplo: treinar judô auxilia na prevenção de quedas e aumenta a força de idosos, ao mesmo tempo nesse mesmo grupo, a prática de karatê, taekwondo e boxe tem demonstrado um impacto positivo na prevenção de doenças neurodegenerativas, como Parkinson e até Alzheimer. Muitas pesquisas demonstram também que a prática bem orientada de lutas contribui na redução de comportamentos violentos e antissociais”, conta.
O especialista destaca ainda o efeito positivo em variáveis relacionadas a transtornos mentais leves, como depressão e ansiedade, que podem ser atenuadas com a prática sistematizada de artes marciais e as modalidades esportivas de combate. “Algumas iniciativas têm observado resultados incríveis, aumentando a socialização e interação de crianças e adolescentes que se encontram no espectro autista”, diz Boscolo, que também é autor de livros como “Preparação Física para Atletas de Judô”, “Pronto Pra Guerra: Preparação Física Específica para Luta & Superação” e “HIIT: Como dominar a prescrição do treinamento intervalado de alta intensidade”.
Potencializando resultados
De modo geral, o que vai determinar a melhora do condicionamento físico é como as sessões de treino são administradas pelos profissionais. De acordo com os especialistas, entre três e quatro meses de prática já é possível perceber melhora na resistência, na força, na potência e na flexibilidade – independentemente da escolha da luta.
“Não existe esse papo de ‘luta completa’. Mesmo quem faz Mixed Martial Arts de forma profissional – e eu tive a oportunidade de trabalhar com atletas de nível internacional, disputando cinturão no UFC – realiza vários treinos adicionais. Destaco, aqui, a importância do treinamento de força (musculação) para a melhora da força e da massa muscular, ou do Pilates, para melhora da força e da flexibilidade, por exemplo. Muitas pessoas buscam ainda práticas adicionais, como o Crosstraining (incluindo a marca Crossfit), o que é ótimo para potencializar os resultados”, esclarece Boscolo.
Marcelo Capella concorda e acrescenta a corrida para ajudar no ganho de condicionamento físico e massa magra. “Só devemos observar uma periodização adequada para não ocorrerem lesões”, observa.
O essencial é que os profissionais das diferentes modalidades sejam capacitados, formados em Educação Física, façam atualizações profissionais e – principalmente – conversem entre si.
Cuidados essenciais
“A importância é o vínculo a um local de prática no qual o profissional seja graduado na modalidade e, também, formado em Educação Física. Adicionalmente, vale lembrar de verificar se a academia é filiada a uma federação e confederação que são nacionalmente reconhecidas. Infelizmente, há muitas pessoas no mercado que se dizem profissionais, mas a formação é falha e isso pode aumentar a chance de lesões ou prejuízos”, finaliza Fabricio Boscolo.
Para saber mais
Acompanhe os especialistas pelas redes:
Fabricio Boscolo @fabricioboscolo | www.fabricioboscolo.com
Marcelo Capella @treinador_marcelocapella | www.marfuncional.com.br
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