Por Cida Conti, colunista Fitness Brasil
As aulas de ginástica têm sido um dos serviços mais punidos pela pandemia, mesmo depois do fim das restrições e do estado de emergência no Brasil e em diversos países do mundo. Questionando os fatos sobre essa acanhada retomada das coletivas nas academias, a pergunta é: estamos diante de uma relutância causada pelo temor do contágio ou por uma clara insatisfação com a baixa qualidade dos serviços prestados?
De uma coisa tenho total certeza, esta situação não é produto exclusivo da crise da COVID, mas sim de um processo iniciado muito antes, com o crescimento da indústria do fitness. Analisando o tempo, viemos de uma época em que tínhamos muito menos academias e a maioria delas gerenciada por profissionais apaixonados e idealistas, que mesmo de forma amadora conseguiam bons resultados. Saímos de um passado glorioso, de grandes professores renomados e bem pagos que puderam crescer e manter suas famílias com o “suor das aulas” e atualmente, com a mercantilização das academias, os grandes operadores parecem estar mais preocupados com a concorrência, com redução de impostos, com a digitalização de seus negócios, do que enfrentar o problema real da escassez de recursos humanos. Reforçando minha fala não corporativista, tenho plena consciência que, se por um lado o valor de muitos professores não é reconhecido, do outro a oferta de bons profissionais também não contribui para isso.
Aqui no Brasil as academias contratam apenas profissionais registrados no CREF, mas estes terminam o curso de graduação sem formação adequada e acabam “se preparando” através de cursos meramente informativos de fim de semana. É comum vermos bacharéis que nunca foram sequer alunos de uma aula de ginástica, sem a mínima noção de execução básica de um agachamento, sem musicalidade, capazes unicamente de reproduzir coreografias decoradas de ritmos.
Com essa escassez de mão de obra que é global, a dúvida que resta é o que fazer para sairmos desta situação? A resposta é invariável: alimentar as academias com profissionais bem-preparados, cuja qualidade seja também reconhecida nos salários, mas para isso as academias precisarão trabalhar cada vez mais para atrair os melhores talentos e reter seus poucos bons professores existentes.
Uma pesquisa recente realizada com 11.000 consumidores europeus de fitness, identificou que equipamentos especializados e a experiência social de se exercitar com outras pessoas podem ser os dois grandes trunfos que academias têm no momento e se na pandemia o uso da tecnologia marcou unicamente nosso mercado, sem dúvidas o talento será o grande aliado e, em alguns casos, a nova “bola de vez”.
Temos muitos profissionais talentosos de coletivas em busca de oportunidades e por outro lado, academias que buscam freneticamente por pessoal qualificado.
Nos anos 2000, os professores investiam muito dinheiro em sua formação, ofereciam conteúdo de qualidade e podiam viver decentemente dando aulas em academias. Mas a chegada de produtos como Les Mills ou Zumba levou a uma popularização do fitness que elevou a demanda além dos profissionais disponíveis, levando as instalações esportivas a contar com pessoal mal treinado e qualificado.
O modelo Low Price não comporta a contratação de mão de obra mais qualificada na ginástica (com algumas exceções) e me atrevo a dizer que é bem provável que as coletivas percam espaço ou até mesmo desapareçam destas academias. Penso que as empresas que crescerão com as coletivas são aquelas nichadas, tipo boutiques, nas quais os recursos humanos sejam priorizados e que seus instrutores se transformem em seus maiores ativos.
Cida Conti é CEO na FIT.PRO – Fitness Programas. Mais de duas décadas formando e desenvolvendo Programas de Coreografia Profissional. É especialista em Step e Ginástica Coletiva, criadora do Método “Step Inteligente” e do 1º Programa Sistematizado de Minitrampolins – JUMP FIT. Tem mais de 950 cursos ministrados em 26 países. Instagram @cidaconti
Conteúdo muito importante e interessante! Gostaria de mais conteúdo sobre o tema. Obrigado, Cida pela reportagem e traz uma reflexão importante em que como docente posso levar este assunto nas aulas de Educação Física/graduação.
Atenciosamente
Alexandre Mendes.
O problema é que muitas academias estão priorizando a mão de obra barata, estão contratando os estagiários, e muitos deles despreparados e são obrigados a trabalhar no salão de Musculaçao e ministrar aulas coletivas. São explorados,. Como precisam de trabalhar, aceitam as imposições da empresa. A desvalorização dos professores é geral ,você se qualifica pra receber por hora aula R$25,00 reais e ainda sem vale-transporte. Impossível sobreviver. E ainda querem exclusividade. Realmente, vou concordar que as aulas coletivas irão sumir, não por falta de alunos. Mas por não ter professores qualificados. Os professores de educação física, não estão investindo mais nessa área. Isso é a realidade.