Grazzi Favaratto, Sara Rodrigues e Roberta Rica, renomadas profissionais da Educação Física, relembram as lutas das mulheres nesse universo e apontam caminhos para se ter mais representantes no esporte e mais praticantes no dia a dia das academias
Yara Achôa, Fitness Brasil
10/3/2023
A luta das mulheres por equidade também passa pela Educação Física. E no mês delas, nada mais justo do que ampliar essas poderosas vozes, mostrando que lugar de mulher é onde ela quiser – dando aulas, assumindo grandes corporações, fazendo gestão, criando, vendendo, lidando com finanças, ocupando todos os espaços. Numa iniciativa inédita, a Fitness Brasil promoveu uma semana inteira de lives no Instagram, convidando as mais diferentes profissionais da área, trazendo rico conteúdo.
No primeiro encontro, sobre Treinamento para Mulheres, participaram Grazzi Favaratto (especialista em LPO como preparação física, docente do Instituto Olímpico Brasileiro); Sara Rodrigues (especialista em Medicina do Exercício/ Esporte; especialista em Reabilitação e Exercício nas Lesões; com certificação WTTC); e Roberta Rica (doutora em Educação Física; professora de pós-graduação no Einstein, Valorize, Estácio, FMU e USCS; autora de livros de exercícios com peso corporal).
Confira a seguir os principais momentos e assista a live na íntegra aqui:
Mulheres no Esporte
“Muita gente fala para mim: ‘que legal estar em um clube (Espéria), foi fácil chegar até aí?’ E minha resposta é: ‘só demorou 20 anos’. Para se ter uma ideia dessa relação entre mulher e esporte, só recentemente, nas Olimpíadas de Toquio, equiparamos o número de participantes masculinos e femininos. Temos também casos recentes de atletas do boxe, do basquete, que tiveram dificuldades para a classificação – porque se leva um ano e meio para isso –, mulheres que tiveram de parar, porque tiveram filhos. O esporte ainda não olha para a mulher como deveria. Temos que começar a organizar os eventos esportivos por outro prisma. Há urgência em se ter mulheres em cargos de diretoria, em federações, no COB, em cargos administrativos – e não só como atletas. Com gestões que entendem que a linha da vida da mulher é diferente da do homem e que não é justo não ser olhada como tal, começaremos a avançar. Estamos abrindo portas que não estavam abertas antes. Mas ainda há muito a se conquistar”, Grazzi Favaratto.
“Vamos analisar um dado: a média salarial da jogadora de futebol no Brasil é R$ 1800. Consideremos 100 jogadoras e vamos comparar com o salário do Neymar. Ele ganha 75% mais do que 100 jogadoras juntas!”, Roberta Rica.
Acolhimento nas academias
“As estatísticas apontam que mulheres praticam menos atividade física do que homens. Por que será que praticam menos? Por se sentirem mais inseguras, por crenças, por carga de trabalho dentro e fora de casa? A questão é: como falar de atividade física se não estivermos atentas à realidade de cada mulher? Em se tratando de treinamento para o público feminino, é preciso olhar além da fisiologia. Tem todo o lado sociocultural. É necessário ter mais escuta, se colocar no lugar da mulher; tentar propor um cenário para que faça sentido a ela praticar”, Sara Rodrigues.
“A academia é um dos principais lugares quando se fala em prática de exercício no dia a dia – e lá a mulher não se sente acolhida. Ainda existe uma sensação de incômodo, principalmente na área de peso livre. Todo começo é difícil: pode faltar coordenação, consciência corporal; ela pode se intimidar vendo outras pessoas com cargas maiores que as dela; pode sentir dor; ter vergonha de não conseguir executar um determinado movimento. Precisamos dar atenção a isso e melhorar o acolhimento no espaço”, Roberta Rica.
Tendências em treinamento para mulheres
“Vejo muito especialista que diz ‘trabalhar com público feminino’, mas são poucos os que sentam e detalham a mulher que ele atende – seja atleta profissional ou frequentadora de academia. Como tendência, porém, vejo treinamentos relacionados ao ciclo menstrual. Acredito que é um tema que tem de ser levado às universidades; uma disciplina chamada Treinamento para Mulheres, sendo ciclo menstrual um dos conteúdos a ser estudado”, Grazzi Favaratto.
“Individualizar e ter maior escuta: para mim são essas as tendências. É preciso entender quem se está atendendo para direcionar a atividades que façam sentido no dia a dia. O profissional que levar isso em conta vai sair na frente”, Sara Rodrigues.
“Estamos passando por um processo de envelhecimento da população. Envelhecer não é um problema. Todos vamos envelhecer. Quanto mais autonomia e melhor chegarmos a essa fase, melhor. Saber trabalhar com esse público também te coloca à frente. Devemos nos aperfeiçoar em ouvir, avaliar e acolher”, Roberta Rica.
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