Por Flávia Brunoro, colunista Fitness Brasil
Neste ano tive a oportunidade de participar de mais uma Convenção da IHRSA, desta vez em San Diego (EUA), e acompanhar as tendências de mercado, os temas mais relevantes do segmento e as novidades do Trade Show.
Antes da pandemia, a minha percepção era de estarmos (Brasil) um pouco “atrasados”. Mas agora, desde a convenção do ano passado, em Miami, a sensação foi de que os desafios, no mundo, se “igualaram” com os temas mais relevantes para o sucesso do negócio semelhantes e convergentes, dentre eles:
- Gestão da Experiência do Cliente
- Gestão da Experiência do Colaborador
- Liderança e Gestão de Pessoas (recrutamento, treinamento, gestão do desempenho, reconhecimento, engajamento)
- Vendas e Marketing
- Tecnologia
- Diversidade
- Saúde Mental
Este último tema foi tratado com mais relevância na Convenção, acompanhando o crescimento desta questão em diferentes âmbitos – corporativo, escolar, social – e é sobre ele que abordarei com mais detalhes aqui.
Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), de 2021, confirmou o aumento dos casos de doenças mentais depois da pandemia. De acordo com a pesquisa, o Brasil lidera com mais casos de ansiedade (63%) e depressão (59%). Além disso, de acordo com as últimas estatísticas de mapeamento de transtornos mentais, realizadas pela OMS, o Brasil possui a população com maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo (9,3%).
Apesar de possuírem causas, sintomas e tratamentos diferentes, a depressão e a ansiedade fazem com que o indivíduo tenha prejuízos na sua rotina social, profissional e comportamental. E, considerando o segmento de esportes e fitness, temos alguns desafios e oportunidades.
Com isso, primeiramente, foram ressaltados os benefícios da atividade física para a redução dos quadros de ansiedade e depressão, como equilíbrio da produção hormonal, redução do stress, melhoria da qualidade do sono, aumento da autoconfiança, prevenção de doenças, entre outros. Esta informação, de certa forma, é conhecida pela maioria das pessoas, mas para gerar e inspirar ação de mudança de comportamento, muitos aspectos que permeiam a gestão de uma academia precisam mudar:
1 – Ambiente – para uma pessoa se inscrever e, principalmente, frequentar uma academia, é preciso, antes de tudo, ter um ambiente amigável. A única maneira de ajudar uma pessoa a fazer atividade física é criar um ambiente que ela goste e queira voltar. Portanto, criar atividades e espaços que promovam a sociabilização e ter pessoas e profissionais empáticos, são ações que permitem e encorajam as pessoas a aumentar a adesão e, consequentemente, acumular os benefícios da atividade física.
2 – Falar sobre Saúde Física e Mental. Na comunicação institucional, no discurso da equipe comercial, nas conversas e instruções com os clientes, muitos gestores e profissionais ainda são focados na estrutura, nos aspectos técnicos das aulas e exercícios, e, tem receio ou falta de conhecimento para inserir o tema saúde mental em sua fala. A frase conhecida “corpo são, mente sã” poderia estar mais na narrativa e na cultura das empresas.
3 – Profissionais de educação física como Coachs de Estilos de Vida. Aqui é que identificamos o grande gap nas academias. O quanto os profissionais estão conscientes e cientes do seu papel para a melhoria não somente da saúde física, mas mental dos seus clientes? Quando um aluno diz que está com ansiedade ou depressão, o que fazer? O que falar? Quando não é dito, como identificar e ajudar? Como se preparar para acolher estas pessoas e transformar positivamente sua vida, em seus diferentes aspectos? Como se capacitar para ser mais do que um educador físico, e sim um coach de estilo de vida, contribuindo para mudança de hábitos, maior conscientização dos benefícios da saúde física, mental e emocional?
É neste ponto de PESSOAS que reside a grande oportunidade e, ao mesmo tempo, o maior desafio da nossa área. Considerando as estatísticas de saúde mental, principalmente os transtornos de ansiedade e depressão, o quanto os profissionais (áreas técnicas, vendas, recepção, marketing) estão preparados para receber e falar com estes clientes? E, principalmente, o quanto estamos cuidando da saúde mental e emocional dos próprios profissionais que atendem estes clientes?
Sempre é hora e tempo de começar e faz todo o sentido começar pelos que cuidam de quem precisa ser cuidado.
Flávia Brunoro é psicóloga e Administradora de Empresas. Diretora de Pessoas e Operações da Rede Competition. Especialista e apaixonada pelo desenvolvimento de pessoas
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