Mais do que ser um bom profissional, é preciso encarar a prestação de serviços como um grande negócio. Especialistas da área apontam o caminho do sucesso
Por Yara Achôa, Fitness Brasil
2/2/2024
Com 30 alunos de personal, responsável pelos treinos de celebridades como Grazi Massafera, Bruna Marquezine, Fábio Assunção e Angélica, mais de 10 mil alunos atendidos em seu programa on-line e mais de 700 mil seguidores no Instagram, o professor de educação física Chico Salgado, do Rio de Janeiro, é o modelo de personal trainer que muitos profissionais buscam.
Mas, claro, nada aconteceu da noite para o dia – foi um processo. “Existem habilidades que ajudam qualquer empresário, mas não nos ensinam na faculdade. O personal precisa lidar com agenda, porque ele tem treinos para montar, aulas, vida pessoal. Tudo isso precisa ser bem gerido para ele não se enrolar. Eu já me enrolei muito. Mas aprendi que organização é básico para ser produtivo. Outra coisa é aprender gestão financeira. Tem que saber separar vida pessoal e profissional. No começo da carreira, enquanto não entendia isso, todo dinheiro entrava na conta e era gasto de forma pouco controlada, o que atrasou meu crescimento”, conta.
“Não adianta ser um excelente professor de musculação, saber prescrever e avaliar um treino, se o profissional não tem uma visão de negócio, se não gerencia bem seus clientes e se não enxerga as oportunidades. Ter uma visão estratégica é fundamental e faz a diferença no resultado”, reforça Tavicco Moscatello, personal e empreendedor, diretor do Personal Experience, criador do Functional Circuit.
Como começar
Salgado acredita que tudo começa ainda na faculdade, buscando bons estágios na área que se deseja atuar. “Não é só a técnica da educação física que importa, mas a habilidade de lidar com as pessoas, entender o momento de cada um. Isso é a prática que ensina. Para prosperar, não tem outro caminho senão o trabalho duro e inteligente”, argumenta.
Para Moscatello, a academia também funciona como uma escola. E as vivências na sala de musculação, na prescrição de atividades cardiovasculares, alongamentos, aulas coletivas, entre outras, são pilares básicos. “Esse dia a dia deve fazer parte do repertório do personal trainer. Ter essa experiência acaba sendo útil em algum momento. A academia tem um papel importante, mas vale dizer que não é único e definitivo”, completa.
Há mais de 15 anos como personal, Givanildo Holanda Matias, hoje mentor de negócios digitais, teve um início de carreira atípico. “Nasci em uma família de comerciantes e desde sempre quis ter meu próprio negócio. Ainda na faculdade montei minha primeira empresa na área de Educação Física. E comecei como personal trainer alguns anos depois, sem nunca ter trabalhado em academia, conquistando um sucesso acima da média e quebrando o paradigma de que é necessário ter experiência anterior nesses locais para seguir carreira solo”, diz o também autor do livro Personal Trainer: como Alavancar suas Vendas e Gerir seu Negócio.
O que não pode é se acomodar. “Se você quer evoluir na profissão, precisa prospectar clientes, escalar aquilo que entrega seja com valor, região que atende ou turmas. E assim você cresce”, ensina Salgado.
Boca a boca X marketing digital
“Uma coisa que nunca vai sair de moda é o boca a boca. Philip Kotler, o grande mestre do marketing, diz isso claramente: quem tem uma experiência muito satisfatória com uma prestação de serviço, tende a indicar para um número maior de pessoas e por mais tempo. Então, o boca a boca é muito efetivo”, diz Moscatello.
O que pode ainda favorecer a indicação é o profissional ter um diferencial – fato que poucos se atentam. “Nos cursos que ministro, em uma sala com 100 personal trainers, pergunto qual é o diferencial deles. Todos respondem que é o atendimento. Mas atender bem é pré-requisito, não diferencial. Esse é um ponto cego. A maioria pensa: ‘atendo bem, sou legal, vou ter cliente’. E não é bem assim”, alerta Givanildo Matias.
“Esse lance de Instagram aconteceu na minha vida nos últimos seis ou sete anos, dos 18 anos que tenho como personal. Então, acredito no poder do boca a boca, de um trabalho bem-feito, principalmente no início. Mas hoje é obrigação de qualquer profissional que quer crescer, trabalhar suas redes sociais. Isso com certeza traz frutos”, conta Salgado. “A venda faz o gol, mas o marketing é que coloca a bola na área. E marketing não é apenas o digital, mas como você se posiciona, com quem e como você se relaciona. É muito importante estar atento a isso, pois quando falamos de personal, ele como pessoa é a própria marca”, completa.
Para um modelo escalável, de acordo com Moscatello, o digital é fundamental. “O universo se amplia. Quem trabalha com planilhas, orientação por vídeos e tudo mais, pode atender pessoas do mundo inteiro. E mesmo se não visar a escalabilidade, se o indivíduo atender 10 ou 15 alunos, ainda assim é importante ter um posicionamento digital. Até porque ele precisa de renovação dos clientes e o marketing digital dá um suporte, além do boca a boca que ele já tem. E mais: esse profissional pode usar o marketing digital para fortalecer sua marca e se posicionar no mercado.”
Autoridade na internet
O tema é complexo. Porém uma coisa é certa: não é recomendado atirar para todo lado e nem sair sem direção. “É importante ter um perfil bem definido, com um foco de atuação – nichada, preferencialmente. Mostre-se um profissional que estuda e vive para fazer aquilo. Nas mídias sociais, a pessoa não está atrás de um produto, mas pode estar em busca de uma solução. Às vezes ela tem um problema que é antigo, porém não está consciente. Por meio do conteúdo você pode capturar a atenção dela. Só que não é uma ciência exata; é preciso estudar e ver o que funciona para ter engajamento”, explica Matias.
O quer postar? “Produza conteúdos que sejam de real interesse das pessoas que quer atingir, seja convicto na sua fala e mostre que tem autoridade naquele tipo de ação. Bons caminhos são apresentar cases de sucesso, trazer testemunhos. Faça uma gestão editorial e fique atento à resposta de engajamento, que deve ser encardo como um termômetro – às vezes o conteúdo é bom, mas é apresentado de forma inadequada. O conjunto dessas variáveis vai ajudando a se posicionar de forma progressiva”, diz Moscatello.
Chico Salgado usa de sua experiência para dar algumas dicas de como ganhar autoridade. “Para mim foram três pontos essenciais. O primeiro é que conquistei clientes muito relevantes e isso, por consequência, trouxe relevância para meu perfil. O segundo é que eu vivo literalmente o que ensino. Mostro todos os dias a verdade da minha vida, da minha família e como a educação física corre no meu sangue. E o terceiro é que ajudo as pessoas com conteúdo gratuito. Se alguém tiver algum tipo de resultado vendo seus posts, você se torna autoridade para eles.”
Personal à distância, uma realidade
“Você tem um tipo de cliente que só vai aceitar o atendimento presencial. Só que tem gente que gostou da história da otimização de tempo, de poder fazer o treino em casa, e o profissional tem continuado de forma remota. Acredito que seguiremos assim, abrindo inclusive outras possibilidades, como a forma híbrida combinada”, diz Moscatello.
Pioneiro em capacitar e ajudar personal trainers, Givanildo Matias conta que trabalha com quatro modelos de serviço à distância:
– Consultoria online padrão: o personal faz uma entrevista com o aluno, passa treino e dá suporte à distância.
– Info produto: a pessoa compra o programa em uma plataforma, dá play e treina onde quiser, quase sem interação com personal.
– Grupos de desafios: são montadas turmas no Whats App e as orientações e o suporte acontecem por ali.
– Treinos ao vivo: trabalhos em grupo, porém ao vivo por meio do Zoom ou conta fechada no Instagram.
“Nenhum deles tira o valor e movimento do presencial”, diz.
Com tantas possibilidades de trabalho se abrindo, o mercado para o personal trainer mostra-se bastante aquecido. “Temos um novo cenário, com novos clientes. Vejo um potencial tremendo para o personal trainer. Só é preciso continuar investindo em conhecimentos técnicos e se dedicar à aplicação desses conhecimentos, com uma visão de gestor de negócio”, finaliza Moscatello.
Fotos: Kampus Production (Pexels); Graham Mansfield (Unsplash)
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