Três especialistas da área respondem as principais questões para ajudar profissionais de educação física e gestores a equilibrar a vida financeira e prosperar
Yara Achôa, Fitness Brasil
30/9/2021
Quem cuida de pessoas, preza pela saúde e bem-estar da sociedade, também precisa ter uma vida saudável – e isso inclui finanças. Afinal, como se dedicar diariamente com atenção e carinho ao trabalho, como estudar para crescer, como cuidar física e mentalmente de si próprio, se o orçamento mensal insiste em ficar no vermelho? Reunimos aqui três grandes nomes do mercado fitness para responder as principais dúvidas e ajudar a apontar caminhos para seu negócio prosperar.
São eles: Luis Amoroso, consultor no segmento do fitness desde 2001 (que estará na IHRSA FB 2021 online, dia 9 de novembro, às 19h20, em sessão interativa com o tema “Gestão Estratégicas 360: Estudo de Caso”); Flavio Lima, especialista em gestão de escolas de natação; Léo Cabral, CEO da Léo Cabral Consultoria (na IHRSA FB 2021, no dia 10 de novembro, às 19h20, com a palestra “Inteligência Financeira”). Confira!
Fitness Brasil – Em geral, qual a maior dificuldade que o profissional de educação física enfrenta quando o assunto é finança?
Luís Amoroso – Para um profissional estar apto ao sucesso, são necessários esses três pilares: técnico, gestor, empreendedor. Ou seja, as chances de ser bem-sucedido aumentam se houver um equilíbrio das habilidades e competências técnicas, gerenciais e empreendedoras. Na educação física, o profissional tem o domínio técnico forte. Daí, movido pela paixão e pelo desejo de abrir seu negócio ou pela expectativa de maior ganho, ele se lança no empreendedorismo. Domina o pilar técnico, mas não tem domínio de gestão e não tem tino de empreendedor. E finança pode ser um bicho papão para quem não é gestor e empreendedor. O principal problema, portanto, é desconhecer se ele tem talento ou dna de gestor e empreendedor. Para se ter ideia, nos Estados Unidos, a terra do empreendedorismo, são abertas um milhão de empresas por ano – e 80% delas fecham após um ano. Das que sobram, 40% fecham em cinco anos. Não é para qualquer um.
Flávio Lima – Acredito que a maior dificuldade seja tratar as finanças de seu negócio, como trata as finanças pessoais. Geralmente o profissional não tem formação em administração e experiência como gestor, então acha que é fácil e pode dar conta – e o que é pior, sem buscar conhecimento para isso.
Léo Cabral – Aponto a falta de conhecimentos básicos em finanças, além de falta de planejamento e organização. É complicado o profissional não fazer a gestão de seu negócio, tomar decisões sem olhar fluxo de caixa… Ele compromete sua renda sem considerar o futuro. Dinheiro em caixa na empresa não é lucro – ele pode estar compromissado com o próximo mês. É preciso ter inteligência financeira.
FB – Quais as principais responsabilidades do profissional de educação física como gestor?
LA – Responsabilidade é diferente de tarefa. Ele tem de ser responsável pelo projeto como um todo e ter um bom planejamento. É preciso saber responder perguntas como: quantas pessoas posso atender, qual a capacidade de ocupação no meu espaço, quais são minhas despesas, quanto preciso investir, quanto posso gastar. O restante são tarefas – marketing, comunicação, estratégia comercial. Se não sabe ou não gosta dessas tarefas, pode delegar a alguém.
FL – O profissional deve focar na área técnica, ter domínio sobre o financeiro e o estratégico, e cercar-se de quem é expert nas funções que não puder abraçar. Mas é interessante que tenha uma noção geral de tudo – marketing, comercial, comunicação -, até para que saiba o que pedir quando necessário. Pode começar pequeno, mas com olhar grande.
LC – Visão estratégica e planejamento financeiro são essenciais. A partir disso, eu começo a tomar decisões para onde vou e aonde quero chegar.
O que é básico em se tratando de planejando do negócio para gerar recursos e ter sucesso econômico?
LA – É ter expectativa clara do que o negócio pode gerar. Faça uma reflexão antes de começar: onde quero chegar, qual o caminho, o que tenho de investir, quanto vai gerar. Os maiores erros vêm da pessoa achar que tem mais do realmente tem, que as despesas são menores, que os clientes pagam todos no mesmo dia. Um negócio bem administrado gera, em média, 20% de lucro. Tem de ser bem pé no chão. Esses 20% são o que estou buscando? Para gerar esses 20%, quanto preciso investir? Quanto tempo vou levar para recuperar meu investimento?
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Que pontos merecem atenção para uma eventual mudança de curso?
LA – Diante de sinais de desequilíbrio entre receitas e despesas. Faltou dinheiro no caixa? Não precisa esperar final do mês.
FL – Quando você começa a usar a reserva para gerir seu negócio, tem que rever o projeto. Pode acontecer de mexer no fluxo de caixa de modo pontual, mas se virou frequente, pare para ver o que está acontecendo. É preciso olhar as finanças diariamente – não uma vez por semana. São 30 minutos por dia para manter visões macros.
LC – Não espere a instalação do caos. Prevenir, antever problemas, blindar-se, são os melhores caminhos. Isso se faz com planejamento, orçamento de metas e gastos, projeção de fluxo de caixa, considerando sazonalidade e volatilidade, entre outras coisas.
Dicas de como estruturar um crescimento de forma equilibrada.
LA – Defina seu destino, qual o caminho e a velocidade que vai seguir. Como vai crescer mês a mês: em número de alunos, em ticket médio, em redução de despesas… Não existe lucro da noite para o dia. Encare a realidade, ponha no papel sua projeção. Busque conhecimento. Existem várias alternativas. Você pode contratar alguém fixo dentro da empresa para cuidar de algumas questões; pode contratar alguém para fazer seu mapa de negócios e depois você segue sozinho. Pode também frequentar cursos. Mas antes de fazer um curso, pergunte-se se o que vai aprender lá estará disposto a colocar em prática. Se você tem 10 ideias, escolha três para fazer acontecer. E saiba que cuidar das finanças exige foco – todo dia, a vida inteira. Tem de olhar para o financeiro quando está indo bem, para cuidar dos pilares do sucesso, e quando está indo mal para corrigir.
FL – Sua área financeira requer foco e disciplina. Às vezes você não conhece as ferramentas ou não gosta de usá-las, mas pode ficar mais fácil a partir do momento que se dispõe a aprender mais sobre elas.
LC – Não utilize faturamento como indicador de negócio. Serviço é diferente de produto. Acompanhe os lançamentos financeiros – entradas e saídas diárias. Uma coisa é imputar dados, outras é olhar o todo e entender a situação. Por fim, tenha uma ferramenta de controle gerencial.
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