Por Áderson Loureiro, colunista Fitness Brasil
A dor no quadril é causa comum de incapacidade funcional com complexas modificações morfológicas, sinais clínicos (1) e dor crônica em diversos públicos, desde pessoas com idade avançada até atletas jovens (2). As lesões no quadril configuram 10% das visitas nos consultórios relacionadas à medicina do esporte e levam à interrupção dos treinamentos em adultos jovens. Estas lesões apresentam um diagnóstico desafiador assim como o tratamento, por conta das diversas fontes e mecanismos que podem acarretá-las (2), entretanto deve ser destacado que estas lesões podem resultar no risco aumentado para o desenvolvimento de osteoartrose (OA) (1). Dentre as potenciais causas para a rápida deterioração articular do quadril a Síndrome do Impacto Femoroacetabular (SIFA) destaca-se principalmente no adulto jovem (3). A SIFA é caracterizada por alterações na anatomia do acetábulo e da região proximal do fêmur que, invariavelmente, leva à ruptura do labrum que é essencial para estabilidade e proteção da articulação do quadril (3).
A etiologia da SIFA se apresenta dentre alguma das três formas morfológicas: cam (came), pincer ou mista (Fig. 1). A morfologia do tipo cam apresenta formação óssea na transição do colo com a cabeça femoral, resultando na não esfericidade da cabeça e sua junção com o acetábulo. Por outro lado, o tipo pincer, usualmente associada à retroversão acetabular, é resultado do aumento da cobertura acetabular sobre a cabeça femoral. O tipo mista apresenta tanto pincer quanto cam morfologias e de acordo com Trigg e colegas (2020) é a forma mais comum entre as causas de SIFA (2)(4)(5)(4).
Como afirmei anteriormente sobre a relação da SIFA no desenvolvimento da osteoartrose do quadril, tem sido considerado por pesquisadores que esta lesão pode advir de fatores secundários (ex: deformidades congênitas e/ou do desenvolvimento) ou primários (presumivelmente alguma deformidade adjacente da cartilagem articular). Entretanto, recentemente as evidencias suportam a hipótese que a tão reconhecida osteoartrose primária é também secundária para o sutil desenvolvimento anormal da articulação, sendo o mecanismo da SIFA nestes casos, mais importantes que o estresse causado por impacto excessivo (6).
Desta forma torna-se imprescindível que nós, profissionais de Educação Física e Fisioterapeutas do esporte, tenhamos muita atenção e sejamos criteriosos na prescrição e seleção dos exercícios, pois trata-se de uma lesão ortopédica por repetição e crônica, diferentemente das lesões agudas que atingem muitos atletas e praticantes recreativos (ex entorses, fraturas etc).
Treinamento de Força
Especificamente sobre o treinamento de força (TF), diversos são os fatores que contribuem para capacidade da evolução na performance e também na proteção das articulações. Dentre as variáveis que mais contribuem para estas características podemos destacar o volume muscular, a qualidade muscular e a atividade neuromuscular. Como já estabelecido por este autor e nosso grupo de pesquisa, pessoas com osteoartrose de quadril apresentam diversos desequilíbrios musculares comparadas com o segmento não afetado e com indivíduos sem as lesões articulares (controles) (7).
Também está muito bem estabelecido os benefícios que o TF entrega para crianças, adolescentes, adultos e idosos (8)(9)(10)(11), porém a seleção criteriosa dos exercícios deve ser foco fundamental para prescrição principalmente em alunos sintomáticos (ex: dor no quadril, dor inguinal), com desvios posturais (ex: rotação interna coxofemoral, pelve ante ou retrovertida) ou com história genética de lesão no quadril.
Sendo assim, nosso papel como profissionais da saúde e principalmente como promotores da saúde tanto com foco na profilaxia quanto na reabilitação, precisamos direcionar nossa atenção para avaliação antes de qualquer elaboração dos programas de treinamento, seja para atletas de alto rendimento como também e talvez, principalmente, para os alunos/ pacientes que se exercitam nas academias, clubes, boxes, centros de treinamento de artes marciais, estúdios de dança, etc, pois trata-se da grande maioria da população.
Portanto, se faz imprescindível a anamnese e alguns testes específicos para direcionar a seleção de exercícios que minimizem o estresse articular, planejar o programa de treinamento de forma mais assertiva e prescrever com maior segurança.
Na próxima coluna vamos abordar e discutir alguns exercícios não indicados para pessoas que apresentam SIFA.
Forte abraço!
Referências Bibliográficas
1. King MG, Lawrenson PR, Semciw AI, Middleton KJ, Crossley KM. Lower limb biomechanics in femoroacetabular impingement syndrome: a systematic review and meta-analysis. bjsm.bmj.com [Internet]. 2018 [cited 2022 Aug 15];52:566–80. Available from: https://bjsm.bmj.com/content/52/9/566.abstract
2. Trigg, SD JS-CSM, 2020 U. Femoroacetabular impingement syndrome. journals.lww.com [Internet]. [cited 2022 Aug 15]; Available from: https://journals.lww.com/acsm-csmr/fulltext/2020/09000/femoroacetabular_impingement_syndrome.8.aspx
3. Ejnisman L, Ricioli Júnior W, Queiroz MC, Vicente JRN, Croci AT, Polesello GC. Femoroacetabular impingement and acetabular labral tears-Part 1: Pathophysiology and biomechanics. Rev Bras Ortop. 2020;55(5):518–22.
4. Milani CJE, Moley PJ. Advanced concepts in hip morphology, associated pathologies, and specific rehabilitation for athletic hip injuries. Curr Sports Med Rep [Internet]. 2018 [cited 2022 Aug 22];17(6):199–207. Available from: https://journals.lww.com/acsm-csmr/Fulltext/2018/06000/Advanced_Concepts_in_Hip_Morphology,_Associated.8.aspx
5. Beck M, Kalhor M, Leunig M, Ganz R. Hip morphology influences the pattern of damage to the acetabular cartilage. Femoroacetabular impingement as a cause of early osteoarthritis of the hip. J Bone Jt Surg – Ser B [Internet]. 2005 [cited 2022 Aug 22];87(7):1012–8. Available from: https://online.boneandjoint.org.uk/doi/abs/10.1302/0301-620X.87B7.15203
6. Ganz R, Leunig M, Leunig-Ganz K, Harris WH. The etiology of osteoarthritis of the hip: An integrated mechanical concept. In: Clinical Orthopaedics and Related Research. Springer New York; 2008. p. 264–72.
7. Loureiro A, Mills PM, Barrett RS. Muscle weakness in hip osteoarthritis: a systematic review. Vol. 65, Arthritis care & research. 2013. p. 340–52.
8. Faigenbaum AD. Resistance training for children and adolescents. In: Resistance Training for the Prevention and Treatment of Chronic Disease [Internet]. 2013 [cited 2022 Sep 19]. p. 257–73. Available from: https://publications.aap.org/pediatrics/article-abstract/145/6/e20201011/76942
9. Fragala MS, Cadore EL, Dorgo S, Izquierdo M, Kraemer WJ, Peterson MD, et al. Resistance training for older adults: Position statement from the national strength and conditioning association. J Strength Cond Res [Internet]. 2019 [cited 2022 Sep 19];33(8):2019–52. Available from: https://journals.lww.com/nsca-jscr/Fulltext/2019/08000/Resistance_Training_for_Older_Adults__Position.1.aspxSome
10. Schoenfeld BJ, Grgic J. Effects of range of motion on muscle development during resistance training interventions: A systematic review. SAGE Open Med [Internet]. 2020 Jan [cited 2022 Sep 19];8:205031212090155. Available from: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/2050312120901559
11. Grgic J, Garofolini A, Orazem J, Sabol F, Schoenfeld BJ, Pedisic Z. Effects of Resistance Training on Muscle Size and Strength in Very Elderly Adults: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials [Internet]. Vol. 50, Sports Medicine. Springer Science and Business Media Deutschland GmbH; 2020 [cited 2022 Sep 19]. p. 1983–99. Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s40279-020-01331-7?fbclid=IwAR06PPIz8cf2xZExNvrnlueQp0-7SWQwT1x0bUdnZrgTOqcyiAdTrpufTjU
Prof. Dr. Áderson Loureiro é doutor (PhD) em Biomecânica (Griffith Universiity-Australia), mestre em Biomecânica (UDESC), com especialização em Medicina do Esporte (PUCRS) e Gestão da Qualidade (UNISINOS), docente da UNISINOS, proprietário da Advisory – Consultoria em Avaliação e Prescrição de Treinamento, CEO da Alpha Pro System – Plataforma de Avaliação, Prescrição e Gestão (www.alphaprosystem.com). Instagram: @professoraderson, @alphaprosystem, @advisoryadersonloureiro
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