Por Mauro Guiselini, colunista Fitness Brasil
É inquestionável os malefícios do período COVID–19. São milhares de vítimas em todo o mundo. Segundo pesquisas, indivíduos com comorbidades tiveram maiores consequências – dentre inúmeros fatores, o sistema imunológico mais frágil e o nível de aptidão funcional apareceram como importantes indicadores. Os idosos sofreram muito o impacto da pandemia, principalmente os mais frágeis.
Apesar de serem portadores de excelente nível de aptidão física, indivíduos ativos foram infectados. No entanto, parece que conseguiram resultados melhores no tratamento – o tempo de recuperação, a volta à condição física inicial foi melhor quando comparados com sedentários. Obesos, hipertensos, diabéticos, baixa capacidade funcional aeróbia sofreram muito mais para voltar a sua condição inicial.
Este quadro mundial, muito triste, levou a um consenso entre os especialistas da área da saúde – médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, profissionais de educação física, psicólogos: a importância da prática regular do exercício físico como uma das medidas preventivas. Foi enfatizado a melhoria do sistema imunológico, o equilíbrio emocional, a saúde mental, entre outros.
Praticar exercício regularmente, sob orientação de profissionais especializados, foram e são as orientações atuais. Não só como medida preventiva, mas também como forma de ajudar na recuperação de inúmeras sequelas morfofuncionais e emocionais – indivíduos que foram infectados, muito embora estivessem em excelente forma física, num curto espaço de tempo se tornaram extremamente descondicionados e tiveram diminuição drástica da capacidade funcional aeróbia e força muscular, rápida perda de massa e força muscular (sarcopenia e dinapenia) e coordenação motora reduzida. Sem dúvida, mais uma evidência da importância do profissional de educação física para a prevenção, recuperação e manutenção da aptidão física relacionada a saúde e bem-estar.
Muita ações tem sido realizadas para motivar a população sedentária, principalmente os idosos. Infelizmente a grande maioria não realiza o mínimo de atividade física diária recomendada pelas instituições de saúde.
Dados importantes
Se exercitar regularmente se tornou uma prática imprescindível, principalmente para a população sedentária. Seus benefícios já, há muitos anos, têm sido objeto de divulgação, estudos e pesquisas que comprovam a eficácia do exercício físico, sendo identificado “Exercício como Remédio”.
Segundo relatos, parece que está ocorrendo um fato interessante no Mundo Fitness & Wellness: “novos alunos – sedentários, sem experiências anteriores” procurando as Academias, Studios, Personal Trainers, Clínicas, entre outros locais. Esta é uma boa notícia, pois o número dessa população no nosso país é muito grande. Isto significa que, sob o ponto de vista comercial, temos excelentes perspectivas. Em números de matrículas já é maior do que renovações dos alunos ativos ou a volta de alunos antigos.
Um alerta!
Precisamos estar preparados para receber esse novo público – adultos e idosos sedentários, sem experiências anteriores que, em curto espaço de tempo, será a grande maioria dos praticantes. Porém, se faz necessário a adoção de algumas medidas para que não ocorra o que atualmente acontece:
O departamento de marketing… divulga, traz o aluno/ cliente até a “boca do caixa”.
O departamento comercial… “vende o plano $$$$$”
O departamento técnico… O que acontece? Não tem conseguido encantar o cliente!
Este é o ciclo vicioso que tenho visto nos últimos 37 anos, época que comecei a trabalhar nas academias de ginástica como Diretor Técnico e Professor. O aluno vem, inicia o treinamento e num espaço de tempo não muito longo a grande maioria desiste. É sem dúvida, um grande desafio, já comentei sobre isto em artigos anteriores.
Uma possível alternativa
Realmente, salvo melhor juízo, ainda não temos a fórmula mágica para evitar o fenômeno da pouca aderência – conseguir fazer com que o aluno/ cliente permaneça por longo tempo se exercitando.
Sem a pretensão de fornecer uma fórmula resolutiva para tal situação que, realmente é extremamente complexa – afinal, estamos tratando de indivíduos que, em sua grande maioria, não vê o exercício físico como algo prioritário, prazeroso (vide meu artigo anterior) –, recomendo um olhar mais detalhado para o que segue.
Vamos prestar muita atenção ao perfil desse novo aluno/ cliente. Talvez seja um caminho viável para conquistá-lo o que apresento a seguir, que é resultado de milhares de horas de estudo e não menos de atendimento para alunos/ clientes de aulas coletivas e treinamento personalizado, nestes últimos 37 anos. Vejamos algumas características desse “novo público”.
Características dos alunos/ clientes iniciantes, sedentários sem experiências anteriores
Os indivíduos sedentários, sem experiência, são aqueles que, ao longo do dia, gastam muitas poucas calorias adicionais (Guiselini, 2016); que não tem experiências motoras anteriores na prática regular de exercícios físicos (ginástica, musculação, por exemplo), esportes, lutas, artes marciais e dança. Talvez seja a grande maioria das pessoas comuns, que realizam somente o mínimo de atividades cotidianas, com pouco movimento, que devem ter participado muito pouco das aulas de educação física escolar.
Pelo simples fato de não terem experiências anteriores, um estilo de vida não saudável, tem como características psicofísicas:
- As capacidades funcionais resistência aeróbia/ anaeróbia, força muscular, mobilidade/ flexibilidade são pouco desenvolvidas; o controle neuromotor é comprometido decorrente da pouca coordenação motora, equilíbrio e estabilidade. Os movimentos são desarmoniosos, não raro, com assimetrias.
- Alterações morfológicas caracterizando, de maneira geral, o aumento da massa gorda e diminuição da massa magra. Para muitos, tem o início da osteopenia, sarcopenia dinapenia, cerca de 60% ou mais são pré-obesos ou obesos.
- Estão incialmente motivados para iniciar o programa de treinamento como meta/ objetivos relacionados a estética (emagrecimento), melhoria da condição física e sentir-se melhor. Muitos provavelmente estão por indicação médica – apresentam a síndrome metabólica.
- Com muito esforço venceram as objeções para iniciarem um programa de treinamento, muito embora o exercício físico não seja algo prazeroso, preferem outras formas de prazer – comida, por exemplo.
- Precisam de muito estímulo, atenção e motivação para treinar; descobrir modalidades de exercícios que sejam “agradáveis” é um grande desafio. Se sentirem acolhidos é algo muito importante.
Sugestões de procedimentos
Atendimento com acolhimento: contar com profissionais preparados para atender os alunos/ clientes que “não tem, até então, o exercício como prioridade”.
Realizar o diagnóstico, incluindo uma excelente anamnese, aplicação de testes que propiciam a informação detalhada as reais condições neuromotoras, compatibilizando as meta/objetivos com as necessidades.
Estabelecer um bom sistema de relacionamento, com acompanhamento sistemático da evolução – concretização de resultados.
Tornar o treinamento uma experiência de sucesso onde seja possível mostrar, sistematicamente, os efeitos crônicos e agudos do exercício.
Seguramente existem outras estratégias onde é de fundamental importância a integração entre os vários departamentos, no caso das academias, para manter a conectividade com o aluno/ cliente.
Importante! Preparar os profissionais para atender a população idosa, os prateados. Conhecer suas características, realizar uma boa avaliação multifuncional, escolher estratégias de ensino que sejam simples, alegres, que possibilitam o desenvolvimento das capacidades funcionais, dando a eles a possibilidade de terem autonomia, independência, autoconfiança e alegria de viver.
Prof. Dr. Mauro Guiselini é licenciado e mestre em Educação Física pela USP. Doutor em Ciências do Movimento Humano na UNIMEP. Tem especialização em Fitness Leadership pela American Fitness Aerobic Association, Fitness Specialist for Older Adults, Biomechanics of the Resistance Training e Personal Fitness Specialist no The Cooper Institute – Dallas. Tem 54 anos de experiência atuando como professor universitário, personal trainer, gestor, professor de aulas coletivas, técnico esportivo e professor na área escolar. É autor de 38 livros e 16 vídeos relacionados à educação física infantil, cardiologia, obesidade, atividade física, saúde treinamento e avaliação multifuncional. É diretor do Instituto Mauro Guiselini de Ensino e Pesquisa
Sensacional, excelente matéria! Muito importante e assim compartilhando, obrigado Professor Mauro. Obrigado Fitness Brasil .