Por Grazzi Favarato, colunista Fitness Brasil
Para entender nosso presente, precisamos ter conhecimento do passado. Muito se fala sobre a igualdade de gênero no Esporte. Mas será que entendemos a real importância disso ?
Na antiguidade, apenas prostitutas ou virgens podiam assistir aos Jogos Olímpicos, pois mulheres casadas eram proibidas. As mulheres, na verdade, eram os prêmios nas corridas de bigas olímpicas masculinas.
Os jogos de Hera, cerca de 1.000 A.C, eram uma versão de jogos atléticos especificamente para mulheres onde os prêmios consistiam em romãs, símbolos de fertilidade, coroas de oliveiras e fatias de uma vaca sacrificada.
Seguindo a linha do tempo, a princesa espartana Kynisc, em 390 A.C., foi a primeira mulher campeã olímpica e a primeira a se tornar campeã treinadora de cavalos. Contudo foi impedida de retirar seu prêmio pessoalmente justamente por ser mulher.
Nos primeiros jogos era moderna, em Atenas 1896, Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin, até reconhecia que as mulheres deveriam ter uma educação esportiva e chegava a incentivar a competição entre elas, mas para ele as Olimpíadas eram coisa de homens por motivos culturais, antropológicos e, principalmente, físicos.
Somente em Paris 1900, ocorreu a primeira participação feminina permitida, que deu visibilidade às mulheres. Porém mesmo competindo em apenas dois esportes – o tênis e o golfe, por serem “bonitos” e não precisarem de contato físico –, não ganhavam as coroas de oliveira. Elas eram consideradas participantes extraoficiais. Então só recebiam um certificado de participação nos jogos.
Com o passar do tempo, o COI foi aos poucos permitindo que as mulheres participassem de modalidades, mas apenas as que evitavam contato físico. Até que em 1917, uma francesa chamada Alice Milliat criou a Federação Esportiva Feminina Internacional (FEFI), a fim de permitir que mulheres competissem no atletismo.
Atletas Olímpicas
Em 1936, nos jogos de Berlim, a participação feminina teve um enorme sucesso de público, chamando a atenção do COI. A partir deste momento as mulheres foram consideradas oficialmente atletas olímpicas.
Contudo, por muitos anos o preconceito contra a participação das mulheres no Esporte persistiu. Um artigo escrito no New York Times, em 1953, dizia que as mulheres deveriam ser completamente eliminadas dos Jogos Olímpicos: “Apenas não há nada feminino ou encantador sobre uma menina com gotas de suor na testa, o resultado de contorções grotescas em eventos totalmente inaptos para a arquitetura do sexo feminino”, escreveu o autor. “É provavelmente grosseiro dizer isso”, admitiu, “mas qualquer estudante que se preze pode conseguir um rendimento superior a uma campeã mulher.“
O mundo esportivo olhava para as mulheres em comparação aos homens, o que pode ter contribuído para que as pesquisas e estudos tivessem esse mesmo olhar.
Somente nos Jogos de Londres, em 2012, as mulheres estiveram presentes competindo em todas as modalidades. Demorou cerca de um século para que o número de atletas femininas olímpicas fosse quase igual ao dos homens, o que ocorreu em Tóquio 2020.
Apesar de estarmos em pleno 2022, muito ainda existe para ser estudado e aplicado no treinamento físico esportivo em mulheres. Ainda existe uma lacuna nas pesquisas, que por muito tempo compararam resultados entre homens e mulheres ao invés de se aprofundarem plenamente no universo feminino.
Uma pesquisa recente analisou cerca de 5.000 publicações entre 2014 a 2020, com um número aproximado de 12.000 participantes.
Resultados
•🎯 6% das pesquisas são realizadas exclusivamente com mulheres
•🎯 34% dos participantes são mulheres
•🎯86% dos artigos que incluem apenas homens não mencionam isso no título
•🎯 0,6% das pesquisas exclusivamente masculinas investigaram um tópico de saúde específico para homens, ou seja, 99,4% poderiam ter incluído mulheres.
Isso mostra que ainda estamos tratando as mulheres como pequenos homens. Homens e mulheres diferem em risco de lesão, metabolismo energético, capacidade de exercício, padrões de sono, termorregulação, hipertrofia. Não podemos otimizar a saúde e o desempenho esportivo das mulheres sem estudá-los.
Para servir melhor as mulheres, NECESSITAMOS de um maior número de pesquisas sobre a saúde das mamas, assoalho pélvico, contracepção , aspectos psicossociais etc.
Na atualidade, observamos um aumento enorme de mulheres ativas no fitness, contratando serviços especializados como personal training e assessoria esportiva. Estamos entregando nosso melhor produto para esse público e suas particularidades?
Existe um grande aumento no número de mulheres atuando como atletas em alto rendimento. Estamos treinando estas mulheres de acordo com suas características fisiológicas, biomecânicas e psicológicas ou ainda adaptamos o treinamento delas baseado no treinamento dos homens?
É preciso ‘virar a chave’ para melhorarmos o atendimento ao público feminino, construindo um futuro onde meninas e mulheres possam realizar todo seu potencial de movimento.
Grazzi Favarato é especialista na utilização de LPO como preparação física de atletas e no condicionamento físico e manutenção de saúde, treinadora de LPO nível nacional e docente na Academia Brasileira de Treinadores, do Instituto Olímpico Brasileiro (IBO) – Comitê Olímpico Brasileiro
Artigo fascinante! A história das mulheres no esporte é uma jornada de luta, determinação e conquistas. É inspirador ver como essas trajetórias influenciam não apenas o mundo esportivo, mas também o mercado de trabalho, abrindo caminho para mais oportunidades e igualdade de gênero. Parabéns por abordar esse tema tão relevante e por destacar o impacto das mulheres no esporte e na sociedade em geral! 👏👩🦰
“A história das mulheres no esporte e o reflexo no mercado de trabalho” oferece uma perspectiva fascinante sobre a evolução do papel das mulheres no mundo esportivo e como isso se reflete em suas oportunidades profissionais. É inspirador ver como as barreiras foram sendo quebradas ao longo do tempo e como as mulheres estão conquistando cada vez mais espaço e reconhecimento no esporte e em áreas relacionadas. Parabéns pelo artigo informativo e inspirador!
Parabéns as mulheres a cada dia se superando!