Dia 30 de outubro é comemorado o Dia do Fisiculturista. Conversamos com especialistas na modalidade para revelar um pouco mais sobre a história e o desenvolvimento dessa prática tão admirada
Yara Achôa, Fitness Brasil
28/10/2022
Até o final do século XIX, o perfil do homem “forte” era robusto e barrigudo, pois sua aparência física não importava. “Um grupo de adeptos da cultura física resgatou o ideal estético semelhante às estátuas de atletas da antiga Grécia, que exibiam corpos musculosos e definidos, desenvolvendo a ideia de saúde geral, que inclui exercício físico, descanso e boa alimentação”, revela Dilmar Pinto Guedes, Mestre em Ciências, com especialização em Musculação e Treinamento Desportivo e Fisiologia do Exercício, membro docente da Academia Brasileira de Treinadores (IOB-COB) e proprietário do DKG Centro de Treinamento.
Entre esses adeptos, destaca-se Eugene Sandow, homem forte, musculoso e definido que disseminou a prática do fisiculturismo (bodybuilding) na Europa e Estados Unidos. “No início dos anos 1940 surgiram as primeiras competições, o Mr. America e o Mr. Universo, tornando a modalidade um ‘esporte’”, conta Guedes. E então a prática ganhou a mídia. “Um dos representantes foi o ator Steve Reeves, que fez o primeiro papel de Hércules no cinema. Depois, o fisiculturista Reg Park foi inspiração para Arnold Schwarzenegger, que mais tarde se consagrou como Conan e contribuiu para o boom do fisiculturismo”, completa o médico Paulo Muzy, Professor Titular de Ciências do Exercícios da Escola Paulista de Ciências Médicas, médico da International Federation of Bodybuilding and Fitness (IFBB).
Em 1965 aconteceu o primeiro Mr. Olímpia, a principal competição do fisiculturismo mundial – o primeiro Ms. Olímpia só em 1980, vencido por Rachel McLeich. “Na década de 1970 a IFBB e um amante do esporte chamado Joe Weider ampliaram o cenário da modalidade no mundo, cujo centro é a Califórnia (EUA). Nos anos 1980 e 1990 o esporte cresceu bastante e acabou reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Atualmente o Brasil tem destaque na modalidade”, diz Guedes.
A definição de fisiculturismo
“Pela etimologia da palavra, o significado é: cultivo da forma física. Ou seja, se você frequenta uma academia para emagrecer, você também é fisiculturista”, diz Muzy. Em se tratando de esporte, no entanto, corresponde a uma modalidade de apreciação. “São atletas com trabalhos físicos semelhantes, separados de acordo com peso, altura e idade. E eles vão ser avaliados segundo três critérios básicos: volume definição e simetria.”
Segundo Dilmar Guedes, o fisiculturismo pode ser praticado em qualquer academia ou local – desde que com equipamento e conhecimento necessários para tal. “A musculação pode ser praticada por todos com objetivo de saúde ou estética, inclusive crianças. Porém, cada particularidade do praticante – isso inclui idade ou alguma restrição relacionada à saúde – deve ser considerada. É fundamental o acompanhamento de um especialista.”
Já o fisiculturismo competitivo requer tempo relativamente longo de prática contínua e regular. “O fisiculturismo de alto rendimento é um estilo de vida que inclui treinamento árduo, nutrição balanceada e descanso eficiente, ou seja, ‘estilo de vida do fisiculturista’. Muito foco, dedicação e vontade. O acompanhamento nutricional, médico e de um profissional de Educação Física torna o caminho mais eficiente e seguro.”
O mundo das competições
A competição de fisiculturismo – como, por exemplo, o Mr. Universo IFBB, maior campeonato de fisiculturismo do mundo, promovido pela IFBB e pela primeira vez realizado no Brasil, durante a IHRSA Fitness Brasil – consiste na escolha do melhor físico, que inclui densidade, simetria, definição e volume muscular. Os atletas são divididos por categorias, peso e/ ou altura, sexo masculino e feminino e idade. Além disso, existem competições para atletas amadores e profissionais e várias entidades que atuam no esporte e organizam as competições.
“Qualquer pessoa praticante de musculação (treinamento resistido) e com acompanhamento nutricional tem capacidade para competir em alguns categoria do Fisiculturismo e Fitness. Atualmente temos a categoria Fitness Infantil, como também as categorias masters (acima de 40 anos)”, diz Diana Monteiro, Mestre em Educação Física pela USP, presidente da IFBB Brasil e atleta profissional.
Expert no assunto, ela aponta o caminho para começar a participar das competições. “Primeiramente, se informar sobre qual categoria deseja competir. Um treinador/ coach é muito importante, bem como contar com uma equipe multidisciplinar como personal trainer, nutricionista, endocrinologista. Depois é preciso o atleta se filiar à federação de seu estado para ser direcionado para os campeonatos no calendário esportivo e ter acesso às competições.”
Para ela, o tempo necessário para poder participar de um campeonato varia de pessoa para pessoa. “Muitos atletas possuem uma base de outros esportes e outros não, por isso é importante um treinador específico.”
Paulo Muzy lembra que ninguém consegue ficar forte de um dia para o outro – é necessário consistência e regularidade. “A partir de mais ou menos cinco anos de treino você começa a ter condições de apresentar um físico para competições. Porém, o treino para competição é muito diferente. É como se você tivesse um carro e decidisse participar de uma corrida de alta velocidade – tem de haver ajustes e treinamento específico.”
Ao optar pelo desenvolvimento físico e pela participação nas competições, os principais cuidados devem ser as escolhas. “O profissional que vai orientar, o ambiente que vai frequentar e os caminhos que serão seguidos determinarão o futuro do atleta. É difícil estabelecer um tempo para alcançar um objetivo. Existem fatores que influenciam tal resposta, como fatores genéticos (responsividade), regularidade nos treinos, além de outras variáveis do estilo de vida. O importante é entender que para criar um físico sólido, como o de um fisiculturista, é necessário um período relativamente longo de dedicação, foco e perseverança”, finaliza Dilmar Guedes.
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