Entrevistamos o professor Antônio Carlos Gomes, Coordenador Pedagógico da Academia Brasileira de Treinadores na Comitê Olímpico do Brasil, que explica tudo o que você precisa saber sobre o assunto

Yara Achôa, Fitness Brasil
3/11/2022

Preparação física é o desenvolvimento das qualidades físicas por meio do exercício, fazendo com que uma pessoa possa estar em condições de realizar uma certa atividade. Entre as qualidades ou capacidades físicas estão resistência, força coordenação, flexibilidade e velocidade – todas relacionadas entre si. E o seu desenvolvimento implica uma melhor preparação física integral.

No futebol, uma preparação física de qualidade e específica torna os jogadores mais capazes para atuar dentro do campo durante as partidas. Com estudos e novos recursos na área, isso certamente fará a diferença na Copa do Qatar nas próximas semanas. Para entender mais sobre o assunto, conversamos com o professor Antônio Carlos Gomes, um dos maiores nomes da preparação física mundial, ex-atleta de salto triplo, distância e corrida com barreiras, Doutor e Mestre em Treinamento Desportivo, e Coordenador Pedagógico da Academia Brasileira de Treinadores na Comitê Olímpico do Brasil. Confira!

A preparação física – antes relegada a segundo plano, em detrimento da técnica individual –, hoje é fator fundamental. Quais foram as principais mudanças em termos físicos em Copas do Mundo?

Atualmente a preparação física se tornou uma necessidade primordial para o esporte de forma geral, em especial no futebol. A modalidade de futebol nos últimos anos ganhou muita velocidade, mudou a forma de jogar e, consequentemente, precisou mudar a forma de preparação do jogador de futebol.

Houve uma grande evolução da preparação física, pois o advento da tecnologia auxiliou de maneira decisiva no diagnóstico da atividade de jogo. Ou seja, hoje é possível ter o mapa perfeito de como o jogador se locomove durante a partida. E isso virou também os componentes da preparação física, o que modernizou os métodos de treino. Atualmente um grande jogador de futebol deve contar com boa força, boa potência muscular e excelente velocidade.

Da copa de 2018 até a do Qatar, quais foram as grandes evoluções no treinamento de alta performance que fizeram e/ ou farão a diferença para os atletas?

Durante a Copa do Mundo de 2018, o mundo viu alguns atletas como da Bélgica, Inglaterra e outros países correndo em uma velocidade muito alta. Com certeza na Copa do Qatar veremos um volume maior de jogadores apresentando este perfil.

Neste últimos anos a literatura internacional se dedicou a estudar os métodos mais adequados para melhorar a velocidade e a capacidade do jogador resistir durante o jogo em velocidade alta. Sendo assim, neste período curto entre as duas copas, foi fundamental o aperfeiçoamento de tecnologias que ajudam o preparador a controlar melhor o processo do treino. Por outro lado, estão dando atenção a outras partes da preparação do atleta como tentar identificar o potencial biológico de treino do atleta, além do mental (neurociência). Mas sem dúvida, a aplicação de métodos cada vez mais específicos tem contribuído para esta mudança no perfil do jogador de futebol.

Por que, em meio a tantos jogadores, alguns se destacam tanto a ponto de participarem do mundial? 

Atualmente o processo de preparação do atleta deve ser pensado em longo prazo (muitos anos, de 8 a 10 anos). O desenvolvimento e aperfeiçoamento do potencial atlético do jogador deve ser explorado acompanhando as etapas de desenvolvimento motor. Portanto, quando falamos em preparar atletas em nível mundial e/ ou olímpico, é importante que as instituições (clubes) e treinadores estejam atentos a este detalhe.

A periodização do treino desses atletas é um processo pedagógico importante dentro de todo o sistema de preparação. Neste caso, em muitos anos devem ser mantidas um sistema de treino de pelo menos 5-6 vezes por semana, que dure toda a temporada anual. Os conteúdos do treino devem respeitar a condição genética e o potencial biológico dos jovens atletas.

De alguns anos atrás, o que norteia todo o sistema de treino dos futebolistas modernos é a força e potência muscular – o que dá um suporte especial para busca da excelência de resultados em velocidade e agilidade, o qual brilha os olhos dos amantes do futebol. O torcedor, o treinador, o diretor, a torcida e a imprensa. Todos preferem assistir jogos com um alto nível de movimentação durante todo o jogo.

O que diferencia um jogador de Copa do Mundo de um jogador de clube e de um atleta amador?

Um atleta que participa da Copa do Mundo é um atleta que apresenta em primeiro lugar um potencial genético diferenciado em vários aspectos, como: tomada de decisão rápida, inteligência motora, ações motoras rápidas, velocidade apurada e entra também o profissionalismo (dedicação, foco e concentração).

Todos os atletas treinam mais ou menos parecido pelo mundo afora. Mas realmente vai chegar no nível mundial aqueles que fazem algo a mais que os outros. Aquele que acredita mais, é mais insistente durante todo o processo de formação e aperfeiçoamento.

Com a Copa no Qatar – final do ano, calor, final de temporada para América Latina, meio de temporada para Europa –, a preparação física dos jogadores foi diferente?

Esta questão da Copa do Mundo ocorrer em um momento em que os jogadores estão no meio ou final de temporadas competitivas em seus países, claro que é uma preocupação. Por outro lado, a Copa do Mundo é uma competição que motiva os atletas a estarem lá. Trata-se de uma vitrine incrível e é verdadeiramente onde estão os melhores jogadores do mundo na mesma competição.

Os jogadores mais velhos, acima de 30-32 anos, naturalmente apresentam um estado de fadiga precoce durante os jogos e competição. Mas os jogadores mais jovens fadigam mais tardiamente devido ao seu potencial neuromotor  que está no auge de sua produção de movimentos. Com a motivação eles superam a temporada e com um processo bem-organizado de recuperação bem-feita eles podem jogar realmente em altíssimo nível.

Author: Yara Achoa