Atividades saudáveis para o desenvolvimento físico e emocional, elas costumam ser associadas ao universo infantil. Mas seu potencial é maior. Conversamos com os professores Robson Schiavo e Vini Cavallari, especialistas no tema, para esclarecer as dúvidas
Yara Achôa, Fitness Brasil
20/12/2022
As definições de atividades de recreação e de lazer despertam algumas dúvidas. Para começar, elas não têm o mesmo significado. A questão, porém, esbarra nos conceitos da sociologia do lazer. Professor na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), graduado em Educação Física, Administração de RH e com especialização em Lazer e Recreação, Robson Schiavo – ou Professor Bicudo –, explica: “Lazer é uma vontade/ necessidade, inerente aos seres humanos, de fazer ou ocupar-se de algo que seja lúdico (que busque a diversão) permitindo, desta forma, a recreação e o entretenimento. Para ser ‘lazer’ temos que atender premissas de ocorrer no tempo livre de forma descompromissada e ser de livre e espontânea vontade, sem obrigações.”
Sendo assim, a recreação é a concretização do lazer. “Sentimos uma vontade de fazer algo que seja divertido e prazeroso. Recorreremos então ao que chamamos de atividades lúdicas. Por exemplo: ouvir uma música, bater papo com os amigos, andar de bicicleta, ler um livro, contemplar a natureza e até mesmo o ócio. A partir do momento que eu concretizo uma dessas possíveis vontades, eu obtenho a minha recreação”, completa Bicudo.
O papel das atividades nas academias
Recreação ou lazer, o fato é que quando essas atividades envolvem o movimento estamos ajudando a combater o sedentarismo. A função delas nas academias, porém, segundo o especialista, mais uma vez leva a discussões no campo conceitual. “Obviamente que, em sua maioria e na maior parte do tempo, os alunos frequentam as academias com objetivos que não podem ser considerados lazer. Por outro lado, é inegável que existam situações em que o aluno, em ‘lacunas’ de tempo livre durante a sua permanência no estabelecimento, faça algo que seja considerado lazer.”
Outra possibilidade, de acordo com Bicudo, é o aluno que vê na academia um bom local para encontrar pessoas, fazer amizades e passar o tempo sem grandes preocupações e compromissos com outros resultados que advêm da prática da atividade física. “Particularmente acredito neste mix de experiências que podem ser proporcionadas pelas academias, onde o aluno possa atingir seus objetivos ligados ao treinamento como, por exemplo, melhoria da composição corporal, do condicionamento cardiorrespiratório e por outro lado esteja em um ambiente onde encontre momentos para atividades que se caracterizam por práticas de lazer.”
Independente de faixa etária
Formado em Educação Física e Turismo, professor universitário nas duas áreas e atualmente diretor da Ciranda Experiências – empresa de teambuilding –, Vini Cavallari acumula mais de 40 anos de experiência em recreação e explica de onde vem a associação dessas atividades ao universo infantil. “Quando começamos, há quatro décadas, recreação era só na escola e, às vezes, em acampamento. Muita gente comparava até a atividades de escoteiro. Hoje existem muitos cursos de formação, graduação e pós, e de extensão. A área começou a aparecer como opção profissional.”
O lazer é inerente ao ser humano, independentemente da faixa etária. “Obviamente que as faixas distintas apresentam interesses distintos no que diz respeito às atividades lúdicas para a concretização da recreação. Porém temos que tomar um certo cuidado ao rotular atividades lúdicas/ recreativas para crianças, jovens e adultos. Faço o alerta por conta daquela máxima: ‘brincar é coisa de criança’. Brincar e divertir-se é para qualquer idade. Basta levar em consideração o momento, o tempo, o espaço e a oportunidade”, completa Professor Bicudo.
O que oferecer aos clientes
Como são os espaços de lazer e recreação nas academias? De acordo com os especialistas, a resposta passa por alguns pontos. “Que tipo de academia eu quero oferecer aos meus alunos? Aquela em que ele entra, treina e vai embora? Ou quero criar uma academia onde o aluno fica mais tempo por conta de outros motivos que não somente o treinamento, causando, quem sabe, uma fidelização maior? Fazendo um paralelo com a gastronomia, quero um estabelecimento de ‘fast food’ onde conto com um giro rápido dos clientes ou um estabelecimento onde, além de se alimentarem, os clientes contam com outras experiências que agregam valor ao meu negócio?”, instiga o Professor Bicudo.
“Essa discussão não pode estar à revelia do modelo de negócio, filosofia de trabalho, projeto arquitetônico, serviços oferecidos e treinamento do time de funcionários”, completa.
Segundo Cavallari, o profissional de Educação Física é um dos principais atores da área de recreação. Mas existem oportunidades para outras formações, como Turismo, Artes e Psicologia. “O Professor de Educação Física normalmente ocupa a linha de frente. E para isso é essencial ter bom humor, ser comunicativo e entender que seu trabalho é ‘juntar gente’. Ele pode atuar em escolas, acampamentos, hotéis, navios. Ainda há uma vertente de animações de eventos, festas de final de ano, confraternização.”
Atualmente Cavallari trabalha a atividade lúdica, a recreação, com adultos em programas de treinamento e desenvolvimento no ambiente profissional. “Minha esposa, Juliana Medeiros, atuava no mundo corporativo e tinha muito contato com RH e marketing. Unimos forças e transformamos a recreação em um produto, criando a Ciranda Experiências. Desenvolvemos várias dinâmicas – que envolvem integração, trabalho em equipe, criatividade, gerenciamento de tempo, entre outras coisas – e adaptamos a cada empresa que nos procura. Criamos um link entre a necessidade, o desenvolvimento e o brincar”, conta.
É importante que profissionais de Educação Física entendam sobre os conceitos de lazer e recreação, pois são fatores de desenvolvimento humano e contribuem na formação integral das pessoas e na melhoria da qualidade de vida da sociedade de forma geral.
Consultores
Professor Robson Schiavo
Vini Cavallari
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