Judoca, medalhista olímpico, comentarista, fundador do Instituto Reação, empresário, Flávio Canto é o primeiro keynote confirmado da IHRSA Fitness Brasil 2023. Confira a inspiradora entrevista e aguarde por muito mais em agosto, em São Paulo
Yara Achôa, Fitness Brasil
10/2/2023
Tudo começou quando Flávio Canto tinha 13 anos e entrou para o judô. Depois de cinco anos viajando como titular da seleção brasileira, entre vitórias e derrotas, Olimpíadas e Panamericanos, perdeu na seletiva nacional na Olimpíada de Sydnei, em 2000. Voltou para o Brasil e começou a usar o esporte, seus valores e princípios, para transformar vidas. Ele é fundador e diretor do Instituto Reação, ONG criada em 2003, junto com seu técnico Geraldo Bernardes e amigos, que atende cerca de 4000 crianças, jovens e adultos que praticam judô diariamente em sete polos no Rio de Janeiro, duas unidades em Cuiabá (MT), outras duas em Tibau do Sul (RN), uma em Belo Horizonte (MG) – e mais uma que está chegando a São Paulo. O Instituto Reação tem como missão lutar contra a falta de oportunidade na largada e formar faixas pretas dentro e fora do tatame.
Formado em Direito, também entrou no universo corporativo e lançou uma startup de educação chamada Cicclo, focada no desenvolvimento humano pelos valores do esporte com integração social, escalando a metodologia para escolas privadas e projetos sociais pelo Brasil, unindo diferentes públicos e criando um projeto de sociedade. E, em 2022, foi convidado para integrar o Conselho da PetroRio, com foco no ESG, dando início a uma nova vertical em sua jornada.
É essa trajetória inspiradora que Flávio Canto vai levar para a 24ª edição da IHRSA Fitness, que acontece entre os dias 16 e 19 de agosto de 2023, no Transamérica Expo Center, em São Paulo. Confira a entrevista a seguir e veja porque você deve estar lá para ouvir esse incrível keynote speaker!
Como o esporte entrou na sua vida?
Meu irmão, que já́ praticava judô, e a medalha de ouro de Aurélio Miguel nas Olimpíadas de Seul, em 1988, foram os principais responsáveis pela minha entrada no esporte. Comecei no judô em 1989, um mês antes de completar 14 anos. O sonho grande desde o primeiro dia de aula, me vendo um dia em uma olimpíada, veio do meu professor, Geraldo Bernardes, técnico daquela mesma seleção brasileira do campeão Aurélio Miguel. Quando tudo parecia distante, ele e seu entusiasmo davam asas para meus sonhos. Em cinco anos, ganhei, ainda júnior, a seletiva para a seleção brasileira adulto e dei início a um novo ciclo em minha vida viajando o mundo inteiro, boa parte do ano, em busca de ippons.
Qual o impacto do judô na sua vida?
Muitas lutas e países depois, entre vitórias e derrotas, Olimpíadas e Panamericanos, foi justamente da minha maior decepção que surgiu a conquista mais relevante. Depois de cinco anos viajando como titular da seleção brasileira, perdi minha primeira seletiva nacional logo na Olimpíada de Sydney, em 2000. Viajei como reserva e, ainda na Austrália, decidi que tinha chegado a hora de fazer valer o maior ensinamento do judô: mais importante do que o tamanho da queda é como nos levantamos.
O que mais me impressiona no meu esporte é justamente sua capacidade de treinar para a vida. Isso porque a primeira lição que temos é aprender a cair, repetindo inúmeras vezes exercícios educativos para cair com segurança. Só́ depois disso que ganhamos o privilégio de aprender a derrubar. Mesmo quando nos tornamos excepcionais derrubadores continuamos caindo, sempre. E, assim, nessa lição diária de determinação e humildade, compreendemos que no judô e na vida o mais importante não é aprender a não cair, isso é inevitável, mas aprender a se levantar. Como diria um dos princípios máximos do judô̂ “somente se aproxima da perfeição quem a procura com constância, sabedoria e, sobretudo, humildade”.
Então voltei para o Brasil e comecei a usar meu esporte, seus valores e princípios, para transformar vidas. Fui trabalhar como professor de judô em um projeto social na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro.
Sou apaixonado pelo judô e tudo o que proporciona. Acho que a luta também tem, talvez com mais intensidade, essa coisa de você aprender a se conhecer. O judô, que na tradução literal significa Caminho Suave, nasceu em um país em transição. Criado por um intelectual japonês seis anos depois de decretada oficialmente extinta a classe dos samurais no Japão, dando início à era Meigi, ele herdou princípios e valores do Bushido – Código de Ética do Samurai – e foi influenciado pelas filosofias milenares do Confucionismo, Xintoísmo, Zen-Budismo e Taoísmo. Mais do que uma luta, o objetivo de Jigoro Kano foi criar uma arte marcial em que a evolução técnica do praticante fosse sempre acompanhada de sua evolução espiritual.
Como surgiu a ideia do Instituto Reação?
Sempre me incomodou o cenário de desigualdade que eu via, cada vez que eu voltava ao Rio de Janeiro. Aos 25 anos, formado em Direito e tendo feito uma monografia sobre Terceiro Setor, fui em busca de formalizar meu sonho. Como o judô era o que fazia melhor achei natural usá-lo como carro-chefe da minha intenção. Era o nascimento do Instituto Reação e a entrada num caminho, para mim e todos os outros que me acompanharam, sem volta. Jamais seríamos os mesmos.
Nascemos com missão de lutar contra a falta de oportunidade na largada e formar faixas pretas dentro e fora do tatame. Ao longo dos anos tivemos mais de 30.000 alunos. Hoje atendemos cerca de 4.000 crianças, jovens e adultos que praticam judô̂ diariamente em sete polos no Rio de Janeiro, dois no Mato Grosso, outros dois no Rio Grande do Norte, um em Minas Gerais – e um novo está entrando agora em São Paulo. Contamos com mais de 110 colaboradores. Sem dúvida, é uma jornada potente de transformação.
Começamos entre amigos, com diretores voluntários, e montamos um time para tocar o dia a dia. Foi tudo muito orgânico – um chamado para quem quisesse melhorar as coisas. Acredito que ninguém ajuda sem ser ajudado; ninguém transforma sem ser transformado. É uma via de mão dupla.
Construir, conquistar e compartilhar é um pouco do nosso mantra. A conquista faz sentido quando passa a ter impacto na vida de outras pessoas também.
Você também tem um lado comunicador e empresário. É um pouco de todas essas experiências que você vai levar para a IHRSA Fitness Brasil 2023?
Vou levar um pouco da minha experiência como atleta. Todo atleta teve um sonho grande, acreditou antes de todo mundo. É esse também o perfil de todo empreendedor – é preciso sonhar grande e ir além. A ideia ainda é incentivar a cultura de promoção do movimento, não só movimento em si, mas tudo o que ele proporciona – trabalhar corpo, mente e espírito!
Como foi receber esse convite?
É uma honra participar de um evento voltado aos profissionais da Educação Física, porque também temos projetos e estamos entrando com força para discutirmos a Educação Física Escolar, tentando ressignificar esse caminho. O futuro mostra-se sombrio por conta do sedentarismo. Precisamos tirar a Educação Física de um lugar periférico. É importante desenvolvermos a cultura do movimento e isso tem base na escola. Espero todos vocês por lá para compartilharmos experiências e ideias!
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