Por Áderson Loureiro, colunista Fitness Brasil
No estatuto do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), capítulo II, artigo 10º, parágrafo X, está estabelecido que o são atividades privativas dos Profissionais de Educação Física, o seguinte:
“planejar, prescrever, supervisionar, avaliar e orientar a execução de métodos e procedimentos relacionados com atividade física e exercício físico, esporte, lutas, jogos, atividades rítmicas corporais, pilates, crossfit, ginástica e suas variações, musculação, dança e artes marciais, com a finalidade de desenvolver aptidão física, condicionamento físico, desempenho esportivo, reabilitação física e lazer ativo” (ESTATUTO DO CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA – CONFEF, 2022).
Antes de qualquer julgamento devemos nos perguntar:
Qual o papel da nossa profissão na sociedade?
Qual o nosso compromisso com nossa profissão?
Como devemos conduzir nossa prática profissional?
Destaco: Avaliar não é medir!
Mas como realizar as avaliações e o que devemos avaliar?
Sabemos que no “mundo ideal”, os alunos/ pacientes/ atletas deveriam receber a abordagem multidisciplinar por profissionais de Educação Física, fisioterapeutas, médicos do esporte e porque não psicólogos do esporte. Mas sabemos que isto é uma utopia e que na maioria das academias e clubes, sequer realizam uma avaliação postural e funcional (Lim et al., 2020).
Sendo assim, compete a você, caro colega, a qualificação necessária para entregar com ética e responsabilidade a melhor orientação para seu aluno/ paciente.
Recomendo fortemente que você se apodere dos conhecimentos necessários para realizar no mínimo a avaliação postural, funcional e ortopédica e alguns testes ortopédicos para prescrever com o máximo de segurança, eficiência e eficácia.
Como e o que avaliar?
Não existe ou não deveria existir, uma regra definida nem um padrão de avaliação. Existe, sim, vários procedimentos que devem contemplar individualmente as particularidades de cada aluno/ paciente/ atleta. Entretanto algumas condutas e rotinas poderão ser seguidos para que sejamos assertivos.
Destaco que é impossível prescrever sem avaliar! Claro que estou sendo provocativo, visto que a grande maioria das academias, estúdios, boxes, clubes e mesmo os profissionais de Educação Física cunhados como “Personal Trainers”, na grande maioria não avaliam coisa alguma.
Mas se no caos encontramos oportunidades, imagine sua vantagem competitiva neste mercado tão concorrido se você utilizar condutas e ferramentas que qualifiquem seu atendimento. É disso que estou falando: elevar o nível e qualidade da prestação dos nossos serviços. Tudo começa pela avaliação, ou melhor, pela disposição dos profissionais e das instituições em querer prestar um serviço de qualidade.
Dentre os procedimentos que não podem faltar para uma avaliação básica destaco a anamnese, avaliação postural, avaliação funcional e avaliação morfológica, no mínimo.
Anamnese
Os diversos hábitos e história de doenças e lesões do indivíduo devem ser contemplados durante o processo de anamnese que, através deste questionário ou entrevista, servirá como um instrumento importante para alertar o profissional sobre possíveis pontos que mereçam atenção especial. Por exemplo: histórico familiar e possíveis fatores relacionados às doenças cardíacas ou reumatológicas (Guedes, 2006). Além disso, é o momento oportuno para criar empatia com o aluno. Atualmente vários sistemas apresentam questionários que direcionam de forma sistemática e objetiva o profissional. Destaco o Alpha Pro System – APS que apresenta a estratificação de risco de cardiopatia e risco de dor na coluna além do PAR-Q (Figura 1).
Figura 1- Estratificação de risco pelo Sistema Alpha Pro System
Avaliação Postural
São diversos fatores que influenciam a postura humana, incluindo gênero, idade, estilo de vida, força muscular e equilíbrio. Sendo assim, a forma das curvaturas da coluna, bem como o alinhamento dos joelhos, tornozelos, pés, escápulas e a relação de todo sistema neuromusculoesquelético influenciam na postura (Figura 2).
Figura 2 – Avaliação Postural do Sistema Alpha Pro System
Estas características não ocorrem somente em pessoas sedentárias ou praticantes de exercícios físicos descomprometidos. A literatura científica indica que treinamento específico contribui para induzir adaptações físicas e posturais entre atletas. Como resultado de altas cargas de treinamento e repetições de movimentos específicos, ocorre uma tendência para distonia muscular e desequilíbrio das curvaturas da coluna (GRABARA, 2014), o que pode levar à dor, aumento no risco de lesões e traumas, diminuição da performance, bem como afetar a qualidade de vida tanto durante o período competitivo quanto após a carreira atlética. Sendo assim, é trivial a avaliação postural para todas as pessoas que iniciam o programa de treinamento e durante a evolução da periodização.
Imagine se você inicia um programa de treinamento de força, prescrevendo, por exemplo, agachamento com carga axial (barra apoiada nos ombros – figura 2a), com uma criança, adolescente ou mesmo adulto que apresentem escoliose que necessita atenção especial, acima de 20 graus e não foi percebida pelo professor (Figura 2b). (Kuznia et al., 2020)
Qual desfecho poderá ser apresentado de forma crônica? Qual a possibilidade de agravamento? O que esperar a médio e longo prazos em relação aos sintomas e compensações? São perguntas que dever ser sempre consideradas.
NOVAMENTE AFIRMO: É IMPOSSÍVEL PRESCREVER SEM AVALIAR!
Figura 3 – a) Agachamento livre com Barra; b) Escoliose
Nesse sentido o profissional do exercício físico, ao considerar a prescrição do programa de treinamento deve buscar a excelência na prestação do seu serviço, o que contribuirá para saúde, performance e bem-estar.
No próximo artigo vamos abordar outros aspectos da avaliação, especificamente a avaliação funcional e morfológica.
Grande abraço e até a próxima!
Referências Bibliográficas
ESTATUTO DO CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA – CONFEF, DOU 29 128 (2022).
Grabara, M. (2014). Anteroposterior curvatures of the spine in adolescent athletes. Journal of Back and Musculoskeletal Rehabilitation, 27(4). https://doi.org/10.3233/BMR-140475
Guedes, D. (2006). Manual prático para avaliação em educação física. https://books.google.com/books?hl=en&lr=&id=gEAeGHZXu2AC&oi=fnd&pg=PA1&dq=+Manual+pr%C3%A1tico+para+avalia%C3%A7%C3%A3o+em+educa%C3%A7%C3%A3o+f%C3%ADsica.+&ots=rZQ6zDYBlm&sig=f-63cYk9SUhtomQszS_f27UqFeQ
Kuznia, A., Hernandez, A., physician, L. L.-A. family, & 2020, undefined. (2020). Adolescent idiopathic scoliosis: common questions and answers. Aafp.Org. https://www.aafp.org/pubs/afp/issues/2020/0101/p19.html?cmpid=112e73f2-4095-484a-896f-a2053375fb0f&utm_campaign=afp&utm_div=pub&utm_mission=ce&utm_prod=afpj&utm_soc=facebook&utm_prof=american+family+physician
Lim, J., Kim, T., Korea, D. L.-P. T., & 2020, undefined. (2020). The effects of joint mobilization and stretching on the muscle activity and internal rotation of shoulder joint in patients with impingement syndrome with. Ptkorea.Org. https://www.ptkorea.org/journal/view.html?uid=903&vmd=Full
Prof. Dr. Áderson Loureiro é doutor (PhD) em Biomecânica (Griffith Universiity-Australia), mestre em Biomecânica (UDESC), com especialização em Medicina do Esporte (PUCRS) e Gestão da Qualidade (UNISINOS), docente da UNISINOS, proprietário da Advisory – Consultoria em Avaliação e Prescrição de Treinamento, CEO da Alpha Pro System – Plataforma de Avaliação, Prescrição e Gestão (www.alphaprosystem.com). Instagram: @professoraderson, @alphaprosystem, @advisoryadersonloureiro
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