Cofundador do Gympass – ao lado de César Carvalho –, nosso entrevistado de hoje fala sobre a trajetória da empresa que conecta, por meio de um aplicativo, academias, empresas e seus funcionários
Yara Achôa, Fitness Brasil
16/2/2022
Em mais uma entrevista para o Fit BR Fora de Série – o bate-papo com os notáveis da educação física e do mercado fitness –, em versão digital e podcast, trazemos hoje o empresário João Barbosa. Economista formado pela Universidade de São Paulo (USP), com passagens pelo mercado financeiro, Citibank e CVC Turismo, em 2012, ao lado do amigo César Carvalho, ele criou o Gympass.
Para Barbosa, o Gympass é mais do que plataforma corporativa de atividade física. “Somos uma plataforma de bem-estar!” Confira a seguir a entrevista, onde ele fala de negócios, crescimento, tecnologia e futuro.
Como foi sua trajetória profissional até a criação do Gympass?
Eu tenho 35 anos e sou economista. Cursei economia na Universidade de São Paulo, comecei a trabalhar em bancos, como Citibank e Santander. Sempre fui apaixonado pelo mercado financeiro. Foram alguns anos nessa área, quando então decidi que não queria mais ficar em frente de telas todos os dias. Gostava de trabalhar com gente e senti necessidade de fazer alguma coisa diferente. Fui para a CVC Turismo, o que representou uma mudança muito grande na minha carreira. Foi um aprendizado muito legal, conheci muita gente boa e me desenvolvi como profissional. Mas sempre tive vontade de empreender. E já conhecia o César Carvalho – que era meu conterrâneo (eu sou de Boa Esperança e ele de Alfenas, no sul de Minas Gerais) e meu amigo de faculdade, além de termos trabalhado juntos na CVC. Sempre conversávamos sobre a possibilidade de empreender. Em 2012 surgiu a ideia de criar uma plataforma, um site, para auxiliar as pessoas a buscarem uma atividade física e ter uma compra mais racional. Seria a compra de passes diários. O “pano de fundo” da empresa era um pouco até para tentar resolver nossa frustração – a gente sempre foi aquele tipo de cliente que pagava academia e não usava; comprava um plano anual e não usufruía porque estava trabalhando e viajando. A ideia inicial do Gympass foi criar uma ferramenta para amenizar a nossa dor.
Então o Gympass nasceu a partir de uma observação do mercado e da sua própria experiência?
Sim. O Brasil é um mercado com grandes oportunidades – é o segundo maior do mundo, só perdendo para os Estados Unidos. São mais de 30.000 academias, onde circulam bilhões de dólares todos os anos. É um mercado com muito potencial. Mas um dos grandes desafios do setor leva o nome de retenção. Perdemos muitos clientes que começam a fazer atividade física, que têm a intenção e a expectativa de continuar, que desejam se tornar ativos, mas depois de dois ou três meses abandonam as academias. Existem diversos fatores relacionados: o serviço oferecido, a rotina, a não adaptação à atividade escolhida… A partir da nossa experiência percebemos que pagávamos a academia e não havia nenhuma forma mais flexível para que pudéssemos conhecer o serviço e nos encantar com alguma atividade. Então a ideia era criar uma porta de entrada para novos clientes e para retomar ou reintegrar os ex-alunos para o mercado novamente – porque uma vez que eles pagavam a mensalidade e não usavam os serviços, acabavam não retornando.
A conversa do Gympass é com o corporativo, certo? Mas os funcionários podem pedir esse benefício para suas empresas?
Nesse processo de desenvolvimento do Gympass, vimos que as academias, todos os nossos parceiros, já fazem um trabalho muito legal de prospecção, de capitação de clientes. E nossa ideia de trabalhar somente com público corporativo era entender aonde poderíamos agregar para esse mercado. Porque vender os planos ou vender o Gympass para uma pessoa física, a gente só estaria brigando pelo mesmo cliente. Todo mundo sabe que se nós temos funcionários ativos, mais saudáveis, fazendo atividade física, eles vão ser mais produtivos; podemos reduzir sinistralidade em planos de saúde. Qual o grande desafio por parte das empresas? Oferecer essa atividade física de modo sustentável, de modo escalável e que seja acessível para todos. A gente faz isso: retira as barreiras por parte das empresas para que possam investir em algo que é positivo para os colaboradores. E uma vez que a gente consegue desbloquear esse investimento, transferimos tudo para nossos parceiros. Conseguimos trazer muita gente nova – hoje entre 80% e 90% das pessoas que levamos para as academias são clientes novos, que nunca haviam feito atividade física antes. Quando uma empresa ainda não oferece o Gympass como benefício, o caminho é que esse funcionário faça o pedido para seu setor de recursos humanos. Realmente acreditamos que todos têm o direito de ter uma vida saudável e ter acesso à atividade física de qualidade.
Quantas empresas, em quantos países, o Gympass atende? E no Brasil, quais são os números?
O Gympass atende mais de 3.000 empresas em 10 países – estamos na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa. Globalmente temos mais de 55.000 parceiros, entre academias e estúdios credenciados, trabalhando para fornecer ofertas diversificadas a um preço acessível, incluindo aulas ao vivo, personal trainer e aplicativos de bem-estar. No Brasil, temos mais de 24.000 academias e estúdios parceiros. Estamos em todos os estados, em diversas cidades, do Oiapoque ao Chuí. É algo que a gente tem muito orgulho
Como foi o período da pandemia, do isolamento social e restrições?
Foi um grande baque, como para todo mundo. Em questão de um mês, tivemos todas as academias, todos os parceiros fechados. Foi um grande desafio aqui no Gympass para podermos nos reinventar e, principalmente, dar apoio para toda a rede de parceiros. No início da pandemia, eu estava morando na Itália, vi com antecedência o que logo depois aconteceria no Brasil. Então a gente conseguiu se antecipar, tivemos um mês para agir antes que o lockdown chegasse ao Brasil. Basicamente a gente ficou sem produto – as academias, os nossos parceiros, estavam fechados e ninguém podia utilizar o serviço. E as empresas sem saber o que fazer com os colaboradores, todo mundo muito estressado. A gente literalmente se reinventou para atender e ajudar as empresas e os colaboradores de um modo efetivo, para que estivessem mais ativos. Transformamos todos os serviços que antes eram físicos em digitais em menos de dois meses.
Como você tem observado o retorno às atividades físicas presenciais nesse momento?
As pessoas estão muito ansiosas para retornar às atividades com segurança, para voltar a ter um convívio social. Na maioria das academias, essa frequência já melhorou ou está perto de alcançar a pré-Covid. Mas a gente observou mudanças de regiões. Antes havia uma concentração muito grande nos centros empresariais, comparando a áreas muito residenciais. Com flexibilização de horários, home office, temos observado maior acesso às regiões mais periféricas e menor nas áreas comerciais.
Em junho de 2021 o Gympass anunciou uma rodada de investimento de 220 milhões de dólares. Como foi direcionado o valor do aporte?
Este financiamento ajudou a fomentar o crescimento nos EUA, melhorar a experiência do produto e continuar a expansão para novas categorias, tais como fitness digital, saúde mental e nutrição. Nessa rodada de investimento os objetivos foram consolidar o nosso posicionamento e investir em tecnologia, focados em melhorar a experiência do usuário, melhorar a experiência das áreas de recursos humanos das empresas. Representou uma grande validação do nosso modelo de negócio, do nosso sonho de tornar atividade física acessível para todo mundo.
Existe alguma perspectiva para um IPO?
O IPO é uma alternativa que temos para o futuro, para novas captações. Então vai depender muito da realidade do mercado, como ele vai se desenvolver neste ano, que ainda é muito desafiador para a gente. O Gympass está sempre atento a ideias inovadoras que ajudem a consolidar a missão da empresa e garantir que todo o ecossistema esteja se beneficiando. Neste momento estamos focados em aprimorar nossos produtos e a experiência para empresas, parceiros e usuários, fortalecendo o negócio nos mercados em que atuamos, para que todas as pessoas tenham acesso ao bem-estar universal.
Como você enxerga o futuro fitness? O futuro será híbrido?
As pessoas não vão deixar de ir para a academia. Mas começaram a entender que existem novas possibilidades. Por isso eu acredito muito nesse futuro híbrido.
O Gympass e a Fitness Brasil estão juntos no primeiro Panorama Setorial Fitness Brasil. Qual é a importância desse projeto para o mercado?
Nosso mercado ainda peca pela informalidade e pela falta de informação. Então iniciativas como o Panorama Setorial Fitness Brasil são muito importantes e o Gympass é um grande apoiador. Informação é essencial para auxiliar não só as empresas, como para todos do setor, ajudando a tomadas de decisões mais assertivas, a diagnósticos mais precisos, a visão de oportunidades claras.
Fotos: Divulgação e Adobe Stock
Confira a entrevista completa no FitBR Cast – o podcast da Fitness Brasil:
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