Os frequentadores dos centros de atividade física mudaram nos últimos anos. E o ambiente precisa acompanhar e acolher essas pessoas. Patrícia Totaro e Raquel Kabbani, referências no mercado fitness, comentam e dão importantes dicas sobre o assunto
Yara Achôa, Fitness Brasil
1/4/2022
Gestão de experiência do cliente é a prática de projetar e reagir às interações das pessoas para atender ou exceder suas expectativas e, portanto, aumentar sua satisfação e fidelidade. A experiência do cliente não é apenas racional. E é aí que entra a arquitetura.
É fato: a arquitetura impacta o ambiente e pode colaborar com boas experiências em academias. “A arquitetura é a matriz de todos os componentes de design que combinam entre si, além de arte que cria todas as sensações de acolhimento e de experiência ao consumidor”, diz a arquiteta Raquel Kabbani, responsável por 20 assinaturas da rede Bioritmo no Brasil e com implantação no México, criadora dos conceitos das redes Smartfit, Bluefit, Force One e Ride State, clubes e inúmeros trabalhos em academias, condomínios e estúdios pelo Brasil.
Sua força é sentida até mesmo antes do cliente colocar os pés no local. “É o ponto aparente, que vai ajudar a capturar a atenção do futuro frequentador ainda online. Ele começa ‘namorando’ de longe, pelos posts, pelo que vê nas redes da empresa. E na primeira visita, provavelmente chegará com a decisão de compra tomada”, completa Patrícia Totaro, referência no mercado internacional de arquitetura para academias, onde atua desde 1995 com mais de 950 projetos construídos.
A era do bem-estar
Para as especialistas, os últimos anos trouxeram um novo público para as academias. Hoje o cliente quer mais do que estética, ele quer saúde e bem-estar. “Além disso, as pessoas estão buscando experiências, sensações, emoções. E temos como proporcionar isso a elas”, comenta Patrícia.
Elementos que caracterizam o excesso de preocupação com a forma física – como muitos espelhos e imagens de pessoas super saradas – estão perdendo espaço para uma ambientação que transmita a ideia de saúde. “Aos poucos, os donos de academia vão entendendo que o mercado é wellness – e não precisamos de culto ao corpo por toda parte.”
Raquel compara o fenômeno em academia nos Estados Unidos, a Planet Fitness, com as duas maiores academias do mesmo segmento no Brasil e na América Latina, a Smartfit e a Bluefit. “Fazemos com mais gosto a escolha e as combinações de cores, a questão da iluminação, damos um sensação de certo luxo nos materiais. O som é perfeito, a acústica, a climatização, os pisos, a altura do pé direito, a disposição dos equipamentos. O público brasileiro está ficando mais atento a tudo isso.”
Espaço para o Instagram
Mas a academia também virou um point social. E boa parte de seus frequentadores gosta de mostrar que está ali. O famoso post “tá pago”, a foto no espelho depois do treino, a alegria de fazer uma aula de dança, tudo é compartilhado e curtido. E mais uma vez a arquitetura acompanha o movimento.
“A academia tem que ser instagramável. Os projetos têm de incluir selfies points e mudá-los de vez em quando, para sempre termos um ar de renovação e modernidade no ambiente. E quando falo de mudança, não é gastar milhões. Recorremos a pequenos truques, usamos materiais de acabamento de custos baixos, às vezes mexemos apenas na iluminação”, ensina Patrícia.
Ela diz ainda que uma academia convencional tem cerca de 70% de área de exercício, mas o que ajuda a fidelizar são os outros 30% (recepção, vestiários, espaço operacional etc.). “Tem de ser tudo bem pensado e bem distribuído, para fazer pessoa voltar.”
Raquel concorda. “Não há como fugir. Temos uma geração saúde, mas que quer expor o corpo, os músculos, a superação. O desafio é integrá-los ao ambiente sem atrapalhar a verdadeira função, que é a prática de exercícios.”
Iluminação, cores, mobiliário, decoração: tudo colabora com a permanência do aluno. “Iluminação é o item mais importante de uma academia, por vezes, mais que o design em si”, diz Raquel.
Acolher os iniciantes
A arquitetura ainda ajuda o gestor e o dono de academia no acolhimento dos iniciantes – o público que talvez nunca tenha pisado em um espaço fitness antes. “A academia tem de ter o espaço ‘start’, dando atenção ao novo aluno para que ele se sinta bem e queira voltar nos dias seguintes, até que ganhe autonomia para rumar mais independente pela academia em outras atividades”, opina Raquel.
Uma dica que Patrícia dá, durante a primeira visita à academia, por exemplo, é guiar o iniciante por lugares que ele possa se identificar mais, em vez de focar nos equipamentos. “Muita gente ainda acha que academia é lugar somente de gente bonita e malhada. O novo consumidor precisa sentir-se acolhido e encontrar um cantinho feito para ele.”
Melhorar sempre
E por mais bonito que o projeto de uma academia tenha ficado, como tudo no mundo atual, logo ele estará defasado. “Cada vez mais nos cansamos rapidamente”, atesta Patrícia. Mas não é preciso uma reforma a cada seis meses. “Aposte nos detalhes para variar. Por exemplo, trocar as almofadas do sofá da recepção, mudar a iluminação do selfie point, enfim, pequenas e criativas coisas”, finaliza.
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