Luis Amoroso e Cida Conti falam sobre os números encontrados na segunda edição do estudo feito pela FB
Yara Achôa, Fitness Brasil
21/9/2023
País de dimensões continentais, o Brasil tem várias realidades em seu território. Para mapear o que acontece em tão diverso universo fitness, de saúde e bem-estar, a Fitness Brasil, em parceria com a EY e a Armatore Market + Science, idealizou o Panorama Setorial Fitness Brasil. Além de mapear a cadeia produtiva, identificar os principais players, estimar a movimentação financeira e revelar o potencial do mercado, o trabalho nasceu com o objetivo de auxiliar empresas e gestores no estudo de concorrência, contribuir para melhor organização do segmento de forma geral, entre outras coisas.
Na 2ª Edição o intuito foi unificar as informações disponibilizadas pela indústria por meio do levantamento de dados, analisá-las e auxiliar a nortear o mercado fitness nacional. Alguns dos insights dizem respeito a academias especialistas e atividades mais praticadas. O Panorama 2023 apontou que:
– 38% da indústria fitness são academias especialistas.
– 74% dos centros disseram que Funcional é a atividade mais praticada no local.
– Funcional também é a atividade mais oferecida aos consumidores, com 74% da indústria disponibilizando a atividade. Em seguida, apareceram musculação e alongamento no top 3 das atividades mais ofertadas, com 68% e 57% respectivamente.
Conversamos com Luis Amoroso – consultor no segmento do fitness com mais de 35 anos de experiência em academias –, e Cida Conti – CEO na FIT.PRO Fitness Programas, com mais de duas décadas desenvolvendo Programas de Coreografia Profissional –, que fizeram considerações a respeito desses insights. Confira as análises!
Academia especialista: tendência?
Para Luis Amoroso, os números retratam uma questão de costumes, práticas e leituras sociais em relação a atividade física. “Academia especialista é mais uma carta no jogo que ganhou peso. O mundo vai ser low cost? Seria uma tendência? Não necessariamente. É apenas uma possibilidade que se abriu, assim como surgiram mais academias butiques. O que vale questionar é: qual o seu DNA. Seu perfil é trabalhar com volume ou segmentação/ butique? É ser uma academia focada ou uma multi atividades?”, questiona o consultor.
“As redes e academias low cost tomaram conta do país com modelos de negócio e oferta de serviços similares. A musculação tem sido a base principal no mix de serviços destas academias e sabemos que o condicionamento físico demanda trabalho de diversas capacidades físicas que essa modalidade não oferece. Portanto, participar de workouts mais completos que permitam um condicionamento físico mais completo passou a ser interesse comum. Além disso, muitos buscam por atendimento diferenciado e mais personalizado, buscam novas experiências em ambientes tecnológicos e economia de tempo”, analisa Cida Conti.
Funcional: um conceito amplo
Segundo Amoroso, a origem do funcional é a fisioterapia – atividades e movimentos que visam restabelecer capacidades do ser humano, como equilíbrio, mobilidade, força. “O que o mercado está chamando de funcional? O conceito é amplo. Se pensarmos bem, até a musculação tem suas ‘estações funcionais’. Esses 74% que aparecem no Panorama podem ser justificados inclusive como uma releitura da musculação. De qualquer forma, a modalidade ganhou notoriedade nos circuitos e conquistou a simpatia dos praticantes de atividade física. E o marketing soube reverberar essa preferência – é difícil alguém não gostar de funcional, a taxa de rejeição é baixa.”
Sem contestar os inúmeros benefícios que o Funcional proporciona, Cida Conti salienta que essa forma de treinamento ganhou muito espaço na mídia e consequentemente nas academias – que buscam, muitas vezes, implantar novos serviços com base na demanda apresentada por clientes e prospects. “Mas, claro, o Treinamento Funcional traz inúmeros benefícios que vão além da força”, completa.
Funcional, musculação, alongamento X qualidade de vida
Essas atividades estariam em alta pelo fato de estarem relacionadas à busca por maior qualidade de vida? O mercado e a população estariam mais conscientes disso? “`Penso que existe o fator modismo, mas em paralelo também há um processo progressivo de conscientização sobre saúde. A força, principal capacidade física tão contemplada nos treinos de musculação e funcional, vem sendo reconhecida em sua importância que vai muito além da estética. Já o alongamento tem sua procura aumentada não somente pelo ganho evidente de mobilidade e flexibilidade, mas também pela íntima relação com o bem-estar mental que as aulas contemplam. Ou seja, temos a mídia interferindo nas escolhas de cada um, mas também um entendimento crescente sobre a necessidade de certas práticas mesmo que ainda acanhado”, explica Cida Conti.
Luis Amoroso lembra que a pandemia despertou a necessidade da prática de física, mas a maior busca por atividades como funcional e alongamento não refletiria apenas o foco em qualidade de vida. “Some a isso o crescimento da geração Z nas academias. Eles buscam áreas que permitam um movimento mais livre. Não chamaria isso de tomada de consciência e, sim, de releitura, com um ângulo mais aberto e enquadrando mais pessoas. Hoje temos mais estímulos e formas de treinar. O Funcional encontrou esse cenário receptivo e ganhou notoriedade.”
A importância do Panorama Setorial para o mercado
“Temos um país populoso, que é o 5º do mundo em níveis de sedentarismo, com perspectivas enormes de crescimento para o setor econômico e para a saúde pública e privada. A visão mais concreta que os números trazem é fundamental para o crescimento do setor, seja falando de investimentos da iniciativa privada ou na adoção de políticas públicas que definitivamente considerem o exercício físico como meio de saúde”, argumenta Cida.
Luis Amoroso ressalta a importância desses dados, mas fala que além dos números é preciso pensar nas ações que eles possam gerar. “O Panorama é um termômetro para ver o que o mercado está querendo. São insights estratégicos que merecem leituras estratégicas. Não são indicadores de uma única linha e pedem um olhar mais amplo. São números em constante evolução e pedem uma discussão como essa que estamos tendo. Se eu fosse fazer uma previsão, diria que o que está valendo hoje, pode não valer mais daqui um ano. Por isso é preciso dar continuidade a um trabalho como o Panorama”, finaliza.
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