A iniciativa da rede de academias, que estreou na bolsa de valores movimentando R$ 2,3 bilhões em oferta pública inicial de ações, agita o mercado
Por Yara Achôa, Fitness Brasil
12/08/2021
O setor de academias sofreu forte impacto com a pandemia devido às restrições impostas por longo período. E agora segue em ritmo lento sua escalada de recuperação com a volta das atividades econômicas. Diante desse cenário, o recente IPO da Smart Fit, primeira companhia do segmento fitness na bolsa brasileira, provocou grande repercussão no mercado, que começa a enxergar dias melhores. “É um dinheiro novo entrando no setor – apostando no fitness, no wellness, no esporte – nessa retomada dos serviços. Tenho conhecimento de que outros players do mercado norte americano também irão fazer IPO nos próximos meses. Ou seja, teremos um efeito cascata interessante, até com investidores de outros mercados olhando para a gente, interessados em diversificar os negócios”, diz Marcel Gandra, sócio-diretor do Grupo Ultra.
“O passo que a Smart Fit deu e a mídia que gerou jogaram luz no fitness, chamando atenção até de quem não tinha esse segmento no radar. Os investidores começam a entender esse setor de forma mais profissional, gerando oportunidades para pequenas, médias e grandes corporações, enfim, para todos que estejam conectados ao ramo da saúde”, reforça Enrico Ferrari, CEO da Mormaii Fitness.
A expectativa é que bons ventos passem a soprar para o mercado fitness e o ecossistema como um todo, reforçando a atenção de investidores para um negócio que, não muito tempo atrás, parecia fragmentado e agora anda a passos largos para a profissionalização.
“O momento é de muita relevância para todo o setor pelo valor de mercado alcançado pela rede. Como ponto positivo vejo principalmente a melhora da visibilidade do fitness, atraindo o interesse de investidores e a abertura de oportunidades para novas empresas fazerem o IPO ou transações privadas”, avalia Luiz Urquiza, CEO da rede de academias Bodytech.
Oportunidades para todos
A Smart Fit captou grandes recursos que, segundo seu prospecto, serão investidos em um crescimento vigoroso, com várias novas unidades e melhoria dos serviços. “Sabemos que existem diferentes perfis de academia. A Cia Athletica, presente no mercado há 30 anos, atualmente com 17 unidades pelo Brasil, por exemplo, atende uma parte pequena da população, enquanto a Smart investe na democratização, com um modelo vencedor no Brasil. Para quem compete diretamente com ela, acho que vai ser mais complicado. Mas vejo tudo isso com otimismo, como uma maneira de todo o mercado se movimentar”, diz Richard Bilton, presidente da Cia Athletica.
É preciso mesmo se mexer e se atualizar para permanecer e crescer no mercado. “Para pequenas e médias redes, que precisam de capital, isso é bom porque se abrem oportunidades de investimento. E tem também o lado do mercado não profissionalizado. Vamos ver muito mais unidades Smart Fit abertas pelo Brasil. Se o pequeno empresário não estiver bem estruturado, pode ter problemas. Só que também é uma chance para ele se posicionar, não necessariamente baixando o preço, mas apostando em um nicho de atuação, um diferencial que possa criar valor para o empreendimento dele. Com o aumento do modelo de negócio da Smart vejo ainda uma grande porta de entrada para o universo fitness – muito mais gente vai começar a treinar. Tudo isso gera uma necessidade de especialização, que é onde entram as butiques. A pessoa experimenta uma academia acessível, gosta e depois vai querer algo diferente. Os pequenos e médios precisam se especializar para permanecer no mercado”, acredita Fernando Nero, CEO da Ultra.
A concorrência deve aumentar e elevar o nível de exigência dos clientes no Brasil. “Acredito em uma crescente oferta de opções como pequenos estúdios-boutiques, sistemas de uso compartilhado ou até mesmo treinos em casa em menor grau. E crescimento impulsiona crescimento: é certo que a indústria do fitness como um todo trará oportunidades para fornecedores de produtos e serviços, adicionando novidades e tecnologias às ofertas já existentes. Novos players, neste sentido, já estão acompanhando o movimento. É o momento oportuno para o mercado brasileiro captar mais recursos, atrair novos investidores e, sobretudo, novos modelos de negócios, dando ignição a uma demanda existente de clientes que buscam novidades e resultados”, aposta Pedro Goyn, diretor administrativo América Latina da Life Fitness.
Fornecedores e clientes
Graças a injeção de capital, quando olhamos para os fornecedores, uma das maiores vantagens é o aumento do volume de negócios. “O crescimento estimula a concorrência, dispara a busca por equipamentos e condições de negociações. Ea melhora das entregas de serviços atrai cada vez mais pessoas impactadas pela necessidade de cuidados com a saúde por conta da pandemia. No nosso segmento de equipamentos, na Matrix tivemos um 2019 excelente. Em 2020 chegamos aos mesmos resultados, porém com diferentes perfis de clientes: enquanto as academias ficaram paradas, com redução sensível de pedidos, as aquisições por pessoas físicas e condomínios cresceram muito. O primeiro semestre de 2021 foi de estabilização, mas a tendência de crescimento é alta a partir de setembro”, fala Reginaldo Recchia, diretor da Johnson Health (Matrix).
Para Luiz Urquiza, da Bodytech, os clientes saem muito beneficiados com a ampliação de ofertas e inovações em serviços e qualidade nas entregas. E no momento em que cresce a preocupação com a saúde e a atividade física deixa de ser encarada como lazer ou supérflua, o crescimento da rede acontece em boa hora. “Nessa crise sanitária que atravessamos, os cuidados com a saúde aumentaram e tem muito mais gente disposta a melhorar a qualidade de vida”, acredita Enrico Ferrari, CEO da Mormaii Fitness
Crescimento à vista
A análise dos empresários do setor fitness, é que o IPO da Smart Fit abre caminho para que outras grandes redes sigam a mesma direção, incluindo redes regionais. “De maneira geral, o IPO terá sido um marco no desenvolvimento do mercado quando olharmos daqui a 5 ou 10 anos. A abertura de capital também traz, para qualquer empresa, um enorme desafio de otimização de seu negócio. Em relação à influência do cenário econômico como um todo, a empresa passa a ser muito mais auditada e cobrada por resultados. Dessa forma, o nível de serviços só deve melhorar, com reflexos positivos já a curto prazo ao cliente”, explica Pedro Goyn, diretor administrativo América Latina da Life Fitness.
“Quando uma empresa é aberta na bolsa, muita gente fica olhando. A Smart Fit foi a primeira da área, então teve muita demanda, cresceu espetaculares 30% e acho que vai crescer mais. Eu acredito que devemos ver novos investimentos e a partir disso a sociedade ganha com mais empregos e os alunos ganham com melhores serviços. A concorrência sempre é boa para o mercado. As academias estão em um momento particularmente difícil, com as medidas de restrição ainda comprometendo o fluxo de funcionamento. Mas acho que até dezembro, com o avanço da vacinação e a covid controlada – pelo menos é essa nossa esperança – deve acontecer uma reação no setor. No longo prazo eu vejo com bons olhos. O Brasil é um país em que as pessoas gostam de fazer academia. O IPO da Smart Fit mostra o potencial do mercado de academias, que é gigante no Brasil. Tem muita oportunidade!”, analisa Samy Dana, professor de economia da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas.
O grande passo da Smart Fit
O dia 14 de julho de 2021 entrou para a história da Smart Fit. Após fazer seu IPO (sigla em inglês correspondente à Initial Public Offering), a rede de academias estreou na bolsa de valores oficial do Brasil, em cerimônia com a presença do CEO Edgard Corona e Juca Andrade, vice-presidente de Produtos e Clientes da B3.
Em sua oferta pública inicial – 100% primária, o que significa que todos os recursos levantados foram destinados para o caixa da empresa –, as ações foram negociadas a R$ 23 cada, resultando em um montante de R$ 2,3 bilhões que, segundo prospecto da Smart Fit, estão sendo distribuídos da seguinte forma:
– 70,1% para a abertura de novas unidades (atualmente a empresa tem 928 academias e cerca de 2,3 milhões de clientes ativos).
– 14,1% para aquisições estratégicas (aos moldes de Queima Diária e Just Fit).
– 10,8% para a compra das ações da SmartEXP (empresa da qual a Smart Fit é controladora).
– 5% para o desenvolvimento e fortalecimento de seu ecossistema.
Após a oferta pública, os acionistas tiveram sua participação diluída para 57,32%, mantendo ainda o controle da empresa.
“O IPO foi o caminho que escolhemos para seguir com a expansão, consolidar nosso propósito de democratizar o fitness de alto padrão e perpetuar a existência da empresa. A confiança dos investidores soma-se agora à confiança que nossos 2,8 milhões de clientes depositaram na Smart Fit ao longo dos últimos anos. Estamos cheios de vontade para crescer”, comemorou Edgard Corona durante o evento na B3.
Foi o 30º IPO do ano e o primeiro de uma rede de academias na bolsa brasileira. “Isso demonstra que o mercado de capitais brasileiro é para todos os setores, todos os tipos de empresas”, declarou Juca Andrade na ocasião.
Sem dúvida esse movimento gerado pelo IPO da Smart Fit é um grande passo para o avanço dos negócios fitness nos próximos meses. E o mercado volta, enfim, a recuperar o fôlego!
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