Edina Camargo, professora na graduação e pós-graduação, cientista com pesquisas na área da atividade física e saúde, faixa preta de judô, é mais uma das mulheres de destaque na Educação Física nas matérias especiais da Fitness Brasil
Yara Achôa, Fitness Brasil
8/3/2024
Hoje, 8 de março, é Dia Internacional da Mulher. A data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) na década de 1970 e simboliza a luta histórica das mulheres para terem suas condições equiparadas às dos homens. Inicialmente, remetia à reivindicação por igualdade salarial, mas, atualmente, simboliza a luta feminina não apenas contra a desigualdade econômica, mas também contra o machismo e a violência.
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Como forma de homenagear as mulheres da área de Educação Física, durante essa semana o FitBR News vem publicando entrevistas especiais com profissionais que fazem a diferença no mercado. Hoje é a vez da profissional de Educação Física, professora, cientista e faixa preta de judô Edina Camargo – e ela também é palestrante da IHRSA Fitness Brasil 2024, maior encontro da indústria fitness, saúde e bem-estar da América Latina, que acontece de 22 a 24 de agosto de 2024, no Transamérica Expocenter, em São Paulo.
Por que você escolheu a Educação Física?
Fiz essa escolha muito cedo, desejava ser professora de Educação Física desde os 10 anos de idade. Quando consegui me graduar foi uma felicidade enorme. E, à princípio, pensava em trabalhar com esporte – era apaixonada pelas aulas de Educação Física e por esporte em geral. Mas não fui muito por esse caminho. Acabei me especializando na área de atividade física e saúde. Mas quem me levou para essa profissão foi o esporte. Uma coisa legal na minha formação é que meu pai sempre falou para mim e para minhas irmãs – somos quatro mulheres e dois homens – que tínhamos de fazer uma faculdade e aprender a dirigir para não depender de ninguém. Então, ele fez de tudo para que fôssemos para faculdade, cobrou muito para que seguíssemos nos estudos e nos empenhássemos para ter sucesso. E nos deixou bem livres para optarmos por qualquer coisa que gostássemos. Escolhi a Educação Física com muita certeza – mesmo algumas pessoas ainda dizendo que era uma profissão sem futuro.
Você enfrentou algum obstáculo para praticar esporte?
Quando comecei no judô – sou faixa preta e depois também fiz jiu-jitsu –, tinha muitos homens em todos os ambientes, tanto em treinos como competições. Meu pai ia até o local para ver como era, ficava assistindo para ver se era seguro e me incentivava. E nas competições acabava lutando com meninos, porque eram poucas meninas. A luta marcial era predominantemente masculina. Ter o apoio da família foi muito importante para vencer esses obstáculos. Felizmente as coisas evoluíram e hoje a gente vê um número muito grande de mulheres em todos os esportes. Isso me deixa muito feliz.
Quais as principais mudanças que você observou ao longo dos anos na Educação Física,?
Há 20, 30 anos as salas de musculação eram repletas de homens. Estou com 44 anos, mas quando estava na graduação, quando tinha 20 anos, ia fazer estágio em academia e era muito difícil encontrar uma mulher para ajudar. Quando encontrava uma figura feminina, que era professora lá, eu vibrava porque conseguia fazer perguntas sobre treinamento que, às vezes, não fazia para os homens. De lá para cá o número de mulheres nas salas de musculação aumentou e muito. E também o número de mulheres praticantes.
Uma coisa importante para destacar é que existiu um período no Brasil em que as mulheres não podiam fazer esportes considerados masculinos – como futebol, lutas marciais (judô, por exemplo), exercícios de força, levantamento de peso, a própria musculação. Existia inclusive um decreto. Em 14 de abril de 1941, o presidente Getúlio Vargas baixou o Decreto-Lei 3.199, art 54, que proibia as mulheres de praticar esportes que não fossem “adequados a sua natureza”, ou seja, que fossem considerados masculinos, segundo aquela época. Imagine você querendo fazer seu exercício na musculação, seu exercício de força, e não poder porque um decreto, que durou até 1979, impedia. As mulheres acabavam fazendo as coisas escondidas. Foi justamente em 1979 que um grupo de judocas saiu do Brasil para competir em Montevidéu, Uruguai, e voltou com medalha. As meninas voltaram campeãs de um esporte que seu próprio país as impediam de praticar. Daí começou uma revolução muito grande para que a situação mudasse. E essas judocas, assim como várias outras mulheres, formaram uma linha de frente para que o decreto caísse. Em 44 anos evoluímos muito, tanto em número de praticantes como de profissionais mulheres na área. Foi a partir daí que surgiram as professoras de futebol, que as mulheres passaram a poder praticar futebol, as professoras de judô, as mulheres que viraram faixa preta de todas as lutas marciais. A gente saiu da estaca zero para todas essas conquistas. Vejo isso como um marco muito importante na Educação Física.
Eu falo desse decreto na minha Certificação em Treinamento Feminino. Mostro a história para que as pessoas entendam o quanto a mulher cresceu nas últimas décadas em relação ao esporte e à Educação Física. Inclusive o tema também faz parte do curso que darei na IHRSA Fitness Brasil pelo terceiro ano. Em 2023 estive à frente de uma Certificação em Treinamento Feminino, que foi a que primeiro esgotou as inscrições. Isso me deixou muito feliz. Esse ano estarei de volta!
Na IHRSA Fitness Brasil, Edina comandará uma Certificação em Treinamento Feminino e será uma das professoras do curso técnico “Profissional de Educação Física atuando na área da saúde”, com a aula “Diretrizes mundiais sobre o treinamento de força e treinamento aeróbico”. Não perca! SAIBA MAIS
E as principais conquistas femininas na área?
Poderia ficar horas relembrando mulheres que se desafiaram nos mais variados esportes, que se inscreveram como homens para poder competir, mulheres que, mesmo proibidas, foram lá e competiram. Falei das meninas de Montevidéu, mas temos também a nadadora Maria Lenk que, com 17 anos de idade, em 1932, foi a única mulher a participar das Olimpíadas de Los Angeles. E hoje é a Patrona da Natação Brasileira, uma atleta que nadou 11 mundiais no master e conquistou 54 medalhas, sendo 37 de ouro. Com isso vemos o quanto a Educação Física evoluiu, tanto em prática de atividade física como na profissão. Essas mulheres, que lutaram tanto para que a gente pudesse estar aqui hoje falando de natação, competindo, sendo professora das mais variadas modalidades, para mim são um dos maiores marcos que vejo na área. Vibro muito com as conquistas que a gente teve e agradeço a todas as mulheres que asfaltaram o caminho do esporte para que hoje a gente pudesse passar.
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“A mulher saiu do papel de coadjuvante; agora está ligada à tomada de decisões que impactam o mundo esportivo”
“Temos de nos unir para que possamos ver mais mulheres em todas as áreas dos esportes”
Como vê o mercado para a mulher profissional de Educação Física?
A mulher pode atuar onde ela desejar: se escolher trabalhar com criança vai dar certo; se desejar trabalhar com luta marcial, vai dar certo; se optar por trabalhar com golfe, vai dar certo. Basta acreditar no seu potencial, estudar, se dedicar, sempre se atualizar. Alguns eventos da área, como a IHRSA Fitness Brasil, são muito importantes pois reúnem pessoas sérias, conteúdos baseados em ciência. E hoje a atualização está mais acessível para todos. Se você não pode estar presente, existe a possibilidade de participar online.
Uma mensagem final…
Convido a todas para conhecer minha página no Instagram onde falo sobre Exercício e Saúde da Mulher (@camargoedina). E quero finalizar dizendo que meu maior sonho é minha realidade. Desejei estar aqui, sonhei com esta profissão. Acredito na importância da minha profissão na sociedade. Você pode escolher ser o que quiser na sua vida, eu escolhi fazer o melhor.
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