Consumido de forma equilibrada, em conjunto com fibras, o macronutriente pode contribuir para melhora da sensibilidade à insulina, o controle do perfil glicídico e lipídico e a melhora na sinalização de fome e saciedade
Apoio educacional Belvita
21/3/2024
Os carboidratos desempenham um papel fundamental como substrato energético para o cérebro, promovendo a otimização das sinapses e facilitando a eficiência das conexões neurais. A adaptação genética, ocorrida há aproximadamente um milhão de anos, permitiu melhor capacidade de digestão do amido presente em alimentos como a batata e outros tubérculos, refletindo a importância desse macronutriente na evolução humana.
Entretanto, a discussão em torno dos carboidratos é frequentemente marcada por controvérsias, especialmente nas correntes contemporâneas de hábitos alimentares. Dieta populares, como a LCHF (low carb high fat) e a dieta cetogênica, propõem a restrição significativa no consumo de carboidratos, muitas vezes abaixo de 50 g/dia, o que tem contribuído para o receio em consumir este nutriente. A base da utilização dessas estratégias dietéticas se dá ao fato de que a diminuição no consumo de açúcares, ocasionando a cetose, causa uma oxidação lipídica, o que promove o aumento do gasto energético. Com isso, o balanço energético total por meio desses mecanismos é negativo, levando a uma perda de peso consideravelmente rápida.
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Porém, essa vilanização dos carboidratos tem gerado uma tendência à “carbofobia”, caracterizada pela aversão ou temor a consumir alimentos ricos nesse macronutriente. Essa preocupação está associada principalmente ao potencial ganho de peso e aos desconfortos abdominais, como o inchaço e a distensão abdominal.
O inchaço é atribuído à capacidade das moléculas de carboidratos em reter água intracelular durante seu armazenamento, além de aumentar a reabsorção de sódio nos rins, levando à retenção hídrica e consequentemente ao aumento do peso corporal total. Adicionalmente, a fermentação das fibras no intestino pode resultar na produção de gases, intensificando os sintomas de inchaço e distensão abdominal.
Efeitos da restrição de carboidratos na saúde
Contudo, é importante reforçar que a baixa ingestão ou exclusão de carboidratos pode desencadear diversos sintomas indesejáveis, como dores de cabeça, alterações de humor, dificuldade de concentração, fadiga, cansaço excessivo, ansiedade e queda no desempenho esportivo, entre outros.
O estudo de Seidelmann et al. (2018) investigou a relação entre a ingestão dietética de carboidratos e a mortalidade em quatro comunidades nos Estados Unidos. Eles demonstraram que a substituição de carboidratos por gorduras e proteínas de origem animal na alimentação está associada a um maior risco de mortalidade, indo na contramão do que foi observado caso houvesse uma ingestão de carboidratos de 50-55%, onde esse risco de mortalidade era mínimo.
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Indivíduos que adotam dietas com restrição significativa de carboidratos, como as dietas Very Low Carb, experimentam não apenas mudanças na composição corporal, mas também alterações notáveis em seu perfil bioquímico. Essas dietas resultam em redução significativa da pressão arterial, dos níveis de glicose em jejum e das concentrações de lipídios séricos. Entretanto, os efeitos adversos associados a esse padrão alimentar incluem dores de cabeça, episódios de diarreia, fraqueza e cãibras musculares. Além disso, observa-se um aumento do LDL-c, devido à tendência de aumento na ingestão de gorduras totais, inclusive as saturadas, decorrente da restrição de carboidratos nessas dietas.
Ademais, essa restrição prejudica a ingestão de fibras na alimentação, resultando em impactos negativos na saúde intestinal e comprometendo a produção de ácidos graxos de cadeira curta (AGCC), essenciais para a integridade da mucosa intestinal, a prevenção da inflamação e do câncer e o funcionamento cerebral.
Um outro estudo publicado pelo Journal of the American College of Cardiology (Zhuang et. al. 2019), revela uma relação complexa entre a ingestão de carboidratos e o risco de incidência de fibrilação atrial (FA). Os pesquisadores identificaram uma associação em forma de curva em U, indicando que o menor risco de FA incidente está associado a uma proporção de ingestão de carboidratos entre 39% e 61%. Notavelmente, a restrição na ingestão de carboidratos parece aumentar o risco de FA em indivíduos com baixa e moderada ingestão desse macronutriente. Dessa forma, as dietas de baixo teor de carboidratos, frequentemente adotadas para perda de peso, podem não ser amplamente recomendadas, uma vez que essas restrições podem estar correlacionadas a um aumento do risco de desenvolvimento de FA.
Esses achados sugerem a importância de um equilíbrio na ingestão de carboidratos para mitigar os potenciais riscos cardiovasculares, especialmente no contexto de indivíduos com uma abordagem restritiva em relação a esse nutriente na dieta. O manejo nutricional adequado no consumo de carboidratos e fibras pode contribuir para melhora da sensibilidade à insulina, o controle do perfil glicídico e lipídico, a melhora na sinalização de fome e saciedade, contribuindo nos processos de recomposição corporal e emagrecimento. No entanto, esse manejo deve ser realizado e acompanhado por um profissional de saúde, como um nutricionista, por exemplo, para que não haja prejuízos à saúde.
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Referências:
1.CAMPOS, FGCM. et al. Ácidos graxos de cadeia curta e doenças colorretais. bras. colo-proctol ; 19(1): 11-6, jan.-mar. 1999.
2. COPPINI, LZ. et al. A importância da fibra alimentar na terapia nutricional enteral. paul. med. cir ; 125(3): 103-9, jul-set 1998.
3. GALANTE, F. Fundamentos de bioquímica: para universitários, técnicos e demais profissionais da área da saúde. 2 ed. São Paulo : Rideel, 2014.
4. IPAC – Instituto de Pesquisa do Comportamento Alimentar de Curitiba. Carbofobia. 2023.
5. NOFAL, VP, et al. Novas descobertas sobre a dieta low carb. E-Scientia, Belo Horizonte; v. 12 (1): p. 10-14, 2019.
6. PEREIRA, KD. Amido resistente, a última geração no controle de energia e digestão saudável. Food Sci. Technol 27 (suppl 1); Ago 2007.
7. SEIDELMANN, SB, et al. Dietary carbohydrate intake and mortality: a prospective cohort study and meta-analysis. Lancet Public Health; v. 3: p. e419-28, ago. 2018.
8. ZHUANG, X, et. al. U-Shaped Relationship Between Carbohydrate Intake Proportion And Incident Atrial Fibrillation; Journal of the American College of Cardiology; v.73: p.4, mar. 2019
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